Edward Luttwak

Expresso, 20080830
João Pereira Coutinho

Só o tempo permitirá um juízo informado sobre Bush. Mas brindo à inteligência de Luttwak em remar contra um rebanho que dispara sem pensar

Bush prepara-se para sair do palco em Novembro. Quem lhe sucede? Mantenho a minha aposta: McCain, naturalmente. Mas o interessante é auscultar as opiniões do mundo sobre George: opiniões que oscilam entre a risota e a náusea.
Curiosamente, em artigo para a revista «Prospect» (uma revista de esquerda), o analista Edward Luttwak discorda. E discorda citando Truman: em 1952, quando o Presidente declinou candidatar-se à Casa Branca, a América e o mundo eram unânimes em condenar Truman. Perder 54 mil americanos na Coreia e perder a China para o comunismo não eram propriamente medalhas que orgulhassem alguém. Meio século depois, com a Coreia remetida para os livros de História, Truman é estimado precisamente pela sua política externa: uma doutrina de «contenção» que contribuiu para o declínio e implosão pacíficas da União Soviética.
O mesmo tratamento é dedicado a Bush: para Luttwak, o Iraque será um dia visto como um mero capítulo de uma longa guerra contra o terrorismo islamita que o 11 de Setembro inaugurou. E Bush venceu essa guerra: em termos ideológicos, conseguiu que antigas potências que toleravam ou apoiavam organizações terroristas começassem a pensar duas vezes (o Paquistão é o melhor exemplo); e, em termos humanos e operacionais, a destruição das bases de treino da Al-Qaeda no Afeganistão e a morte ou captura de uma parcela generosa dos seus membros fizeram o resto. A coroar tudo isto, os Estados Unidos não voltaram a acordar com nenhuma outra torre em chamas.
Luttwak tem razão? A questão é absurda porque, precisamente, só o tempo permitirá um juízo informado. Mas brindo à coragem e inteligência de Luttwak em remar contra os plumitivos que, em rebanho, disparam sem pensar. Os exactos plumitivos que, coisa curiosa, nunca mais voltaram a falar na guerra «perdida» do Iraque. Porque será?
Suspeita minha: porque com a debandada da Al-Qaeda e a relativa pacificação das tribos xiita e sunita, talvez o Iraque não esteja assim tão «perdido». Era a suprema ironia.

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