Isto acaba mal

João Cesar das Neves
DESTAK 02 10 2008 09.32H

Neste momento de crise profunda, em que o sistema económico-financeiro parece derrocar em todo o lado, ouvem-se os comentadores de esquerda repetir, abanando a cabeça, que sempre tinham avisado disto. Não faltam até previsões de estertor final do capitalismo e prenúncios de um mundo novo.
Estas opiniões têm toda a razão, pois aqui se situa o principal defeito do sistema em que vivemos, que um dia o pode destruir. A economia de mercado vive permanentemente à beira do abismo e, por vezes, como em 1929, cai mesmo lá dentro. O nosso sistema baseia-se na liberdade de iniciativa. E a liberdade tem destes percalços. Podem culpar-se muitas leis, decisões, organismos, até erros e crimes, mas tudo isto só acontece devido à liberdade incontrolada.
Mas tais opiniões equivalem também a um homem que vai de carroça, vê um avião cair e afirma: «Eu bem disse que isto acabava mal!» O cocheiro tem toda a razão, mas não é por isso que as pessoas vão deixar de voar e voltar às seguras diligências.
As críticas são válidas. Mas os que as fazem não notam que o computador em que as escrevem e o blogue, jornal ou televisão em que as expressam existem apenas graças ao sistema que tanto abominam. Até a aspirina que tomam para tratar as dores de cabeça que o capitalismo lhes causa foi produzida graças aos produtos financeiros que lhes dão dores de cabeça.
Crises tão terríveis são, afinal, os custos daquele sistema que nos traz a prosperidade. Aquela mesma prosperidade que usamos para criticar o sistema. A insegurança, incerteza e até o tumulto são custos da liberdade.
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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