CONTINUIDADE AMERICANA

DN, 081204
Maria José Nogueira PintoJurista

As primeiras nomeações da equipa Obama mostram mais continuidade que mudança, em termos de main-stream de referência da política norte-americana. Depois das escolhas dos seus colaboradores mais próximos, entre um núcleo duro de conselheiros e staffers da campanha eleitoral, o presidente eleito passou para as equipas fundamentais dos Negócios Estrangeiros, da Defesa e Segurança e do Tesouro e Finanças. Não devem estar muito contentes os politicamente correctos de várias famílias e orientações, que tanto se entusiasmaram com o candidato e a mudança - presume-se que para próximo das suas posições. Como se alguma vez os americanos fossem escolher um esquerdista utópico, pacifista, socializante e, sobretudo, internacionalista. Obama, democrata e afro-americano, vindo das áreas liberais do Partido Democrático, sabe bem, uma vez eleito, quais são os interesses vitais do país, e quais são as linhas que delimitam as políticas da Casa Branca, na política internacional, na defesa, na segurança, em relação à economia e às finanças. No rescaldo de crise financeira em que, mais uma vez, e como em todas as crises e rupturas financeiras, se misturou a ganância irracional de muitos, o dolo de alguns, o optimismo de todos e, sobretudo, o não cumprimento pelas autoridades monetárias e pelas entidades credíticias, da vigilância do sistema e da prudência da profissão, vamos voltar a um maior cepticismo sobre a bondade intrínseca dos "mercados livres", ou melhor, dos mercados libertários. A escolha de Paul Volcker, para presidente do Economic Recovery Advisory Board, é uma homenagem à experiência e à estabilidade. Volcker foi presidente da Fed [Reserva Federal], nomeado por Jimmy Carter em 1977, e serviu mais sete anos com Ronald Reagan. Timothy Geithner, novo secretário do Tesouro, vem da New York Federal Reserve, e Larry Summers, presidente do National Economic Council, foi secretário do Tesouro com Bill Clinton. Para secretário de Estado, praticamente o segundo posto do Gabinete, Obama nomeou Hillary Clinton, reunificando o partido. Clinton apoiou a invasão do Iraque - e em certo sentido faz a ponte entre as alas do partido democrático, uma mais conservadora e outra mais liberal, esta representada pelo próprio Obama. Quer George Schulz, ex-secretário de Estado de Reagan, quer Richard Perle, umas das estrelas neoconservadoras, manifestaram, embora por razões diferentes, satisfação com a nomeação.Quanto à Defesa, conservando Robert Gates, o antigo quadro e director da CIA, que George W. Bush escolheu, em 2006, para substituir o controverso Rumsfeld, Obama deu um sinal muito importante do sentido nacional e suprapartidário da defesa e segurança dos Estados Unidos. Gates, que reintroduzira na burocracia do Pentágono, dominada pelos neoconservadores, uma linha de equililíbrio realista, é a melhor escolha para fazer a transição, já que conhece bem e é respeitado pelos militares e não entrará em fantasias quanto à retirada do Iraque. Quanto ao conselheiro nacional de Segurança, o general James L. Jones, é um militar de carreira, de perfil conservador, amigo pessoal de John McCain. Finalmente, não resisto a comentar os recentes ataques terroristas em Mumbai, antiga Bombaim. Foram ataques bem planeados, sofisticados e a lembrarem que o macroterrorismo existe, e não é uma invenção ou conspiração do "império" americano. E que, ao contrário do que nos foram repetindo alguns porta-vozes da boa esquerda, e alguns respeitáveis "senadores" da República, não era Bush - nem a direita - que faziam os terroristas e tornavam a América um objectivo do terror. Com Obama eleito, os terroristas voltam a atacar em força em Bombaim e quiseram saber quem eram os americanos, os ingleses e os judeus. Para os matar. Sem querer saber se eram republicanos ou democratas, conservadores ou trabalhistas, de direita ou de esquerda.

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