Chesley B. Sullenberger

Expresso, 20090124
João Pereira Coutinho

Recebo um e-mail do meu amigo Nelson Ascher, um excelente poeta e ensaísta brasileiro, que sublinha a ironia: a presidência Bush iniciou-se verdadeiramente em 2001, quando dois aviões derrubaram as Torres Gémeas em Nova Iorque. Terminou agora, também em Nova Iorque, quando um piloto americano conseguiu aterrar de emergência em pleno rio Hudson, salvando a vida de 155 pessoas. Em 2001, o mundo começou com morte. Em 2009, terminou com vida. Na mesma cidade. Com o mesmo meio de transporte. Se me permitem o momento místico, eu diria que Deus está a enviar-nos um sinal.
Mas não é preciso invocar o divino para entender o humano: o terrorismo islâmico, que definiu a presidência Bush no melhor e no pior, ama o martírio, a destruição e a selvajaria como forma de derrotar o Ocidente infiel e idólatra; nós, lamentavelmente, somos como o capitão Chesley B. Sullenberger III: preferimos a vida e estamos dispostos a actos heróicos para a salvar. Aliás, não apenas o capitão Sullenberger. Nos dias imediatamente seguintes à proeza, li as confissões dos passageiros e notei que todos eles, no momento agónico em que o fim era certo, dedicavam os seus últimos pensamentos para os seus vivos: pais, mães, filhos. Amigos.
Sim, Bush pode ter feito merda que chegasse. Mas nos últimos oito anos, nunca duvidei de que lado ele estava. E, já agora, de que lado eu estava: do lado dos vivos e da vida. Só pensa em 72 mulheres paradisíacas quem, na verdade, é incapaz de amar uma que seja.

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