Giussani: Cristo e a Cultura

Alejandro Llano

ABC, 19-2-2009 02:44:22

Uma fé que não se faça cultura – dizia João Paulo II – é uma fé truncada: débilmente vivida, insuficientemente pensada, não cabalmente operativa. A fé não é cultura, certamente, não se esgota em oferecer costumes e valores numa época determinada. O cristianismo é algo mais fundo, permanente e pessoal. Mas, precisamente por isso, inclui em si mesmo uma decisiva potencialidade cultural, que se plasmou de maneiras muito ricas e diversas ao longo da história. Reduzir a religião católica à sua dimensão devocional e privada, com medo de se enfrentar com formas de pensamento alheias a ela, equivale a convertê-la numa caricatura de si mesma.

don Luigi Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, encontra-se nos antípodas de tais reducionismos empobrecedores. Ao acercar-se o dia 22 de Fevereiro, quarto aniversário do seu falecimento, recordamos o núcleo da sua mensagem que se fez vida numa multidão de pessoas. Giussani viu que o objecto da fé é, em si mesmo, um acontecimento, é o dom radical do mesmo Cristo, Deus feito homem, que nos saiu ao encontró e que está muito perto, dentro de nós mesmos.

Cristo não traz uma nova cultura. Traz a salvação. Mas, ao fazê-lo, salva a razão e a cultura inteira. Recordava Giussani que católico quer dizer «segundo a totalidade». Não há, portanto, nada que fique de fora desse impulso vivificador que os cristãos recebem do Salvador. O qual, por sua vez, não tem nada que ver com o confessionalismo fechado ou com o clericalimso rançoso. Pelo contrário: Cristo, como inspiração da existência, é Libertação. E a abertura libertadora conduz à Comunhão.

Fecundo escritor, os seus livros encontraram eco em universidades e noutros ambientes nem sempre propícios à recepção da mensagem cristã. Muitos jovens, e outros que não o são tanto, aprenderam dele que, no terreno da cultura, a presença é mais fecunda que a utopia, e que não é necessário ser conservador para não se encolher ante fáceis proclamações de progressismo. Giussani ensinou com o seu exemplo que o diálogo – longe de ser um método ou uma estratégia – constitui um estilo de vida

Catedrático de Filosofia na Universidade de Navarra

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