Reforma

João César das Neves

DESTAK|12 | 03 | 2009 08.07H

Nestes momentos de crise muitas vozes pedem a reforma do sistema. «Temos de mudar a própria matriz do nosso regime económico», dizem, «o fundamento em que construímos a sociedade». A razão desses pronunciamentos é evidente: o desastroso falhanço do mecanismo.

Se essas opiniões significam que, agora que o avião caiu, devemos corrigir a avaria concreta para prevenir futuros desastres, têm toda a razão. Mas infelizmente o que em geral pretendem não é isso, mas que se construa um avião que não caia. Tal é impossível. No futuro vão cair muitos aviões e teremos multidões de vítimas.

O mais surpreendente nessas críticas é não se darem conta da própria obsolescência. O nosso sistema funciona há séculos e já teve muitos acidentes. Aliás, nos primeiros tempos é que as catástrofes eram mesmo terríveis. Comparativamente, as nossas até são ligeiras, porque o nosso modelo é muito mais sofisticado.

Por causa dos horrores dos tempos heróicos, muita gente tentou construir o tal avião sem quedas. Descobriram-se muitos engenhos e protocolos de segurança, que aplicamos, mas nunca uma nave sem gravidade. Quem esteve mais próximo foi o genial sistema marxista, que tinha a blindagem quase perfeita, mas nunca voou longe.

Um facto curioso desta crise é precisamente a ausência de alternativas. Para lá de críticas genéricas, simples anseios vagos, todos pretendem viver no sistema que têm. Alguns, mais moralistas, ocupam-se a listar mudanças necessárias. São sugestões meritórias e sensatas. Eu sugiro duas: agasalhar-se do frio e não falar com estranhos.

João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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