Bloco central

João César das Neves

DESTAK 14 05 2009 08.10H

Várias personagens eminentes têm-se manifestado a favor de um governo de bloco central após as eleições. A razão sempre invocada é a necessidade de estabilidade governativa perante a crise. Claro que esta posição assume tal coligação como estável em si mesma, o que está longe de ser provável. Mas o pior seriam os perigos para a democracia se ela funcionasse.

A nossa situação é muito diferente da estrutura partidária anglo-saxónica, com apenas dois grandes partidos. Temos antes uma disposição típica do sul da Europa, como na Espanha, França e Itália, onde além dos partidos centrais existem grupos mais pequenos. Este arranjo, mais flexível e complexo, tem sofrido modificações como nesses países, mas tem-se mantido e, apesar dos defeitos, funciona razoavelmente.

O grande risco que paira sobre a nossa democracia, num país tradicionalmente pacato, conservador e corporativo, é a concertação entre interesses instalados à volta de um grande partido central que se perpetuasse no poder. Essa é a situação no Japão, Índia, México, e em geral na América Latina. Com a nossa tendência clientelar e acomodatícia, uma solução dessas seria tão má quanto tem sido na América do Sul.

Um bloco central estável e eficaz daria o primeiro passo no caminho para uma democracia anémica e obediente, pior do que já se critica na maioria de Sócrates. Teríamos a generalização nacional da solução madeirense. Os seus defensores invocam o sucesso da grande coligação alemã, sem notarem que se estão a referir precisamente à cultura europeia mais oposta à portuguesa.

João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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