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A mostrar mensagens de junho, 2009

A escolha dos cientistas

in: Jornal por Nicolas Wharf, Publicado em 30 de Junho de 2009 Numa democracia parlamentar, enquanto povo delegamos a tarefa de governar nos políticos, porque nos parece que eles podem fazê-lo melhor que nós, ou então porque não temos tempo para o fazer nós mesmos. Da mesma maneira, na sociedade moderna, enquanto povo, delegamos a tarefa de obter o progresso nos cientistas, porque nos parece que eles podem fazê-lo melhor que nós, ou então porque não temos tempo para o fazer nós mesmos. No entanto, há uma descontinuidade entre aquilo que a sociedade espera dos políticos e aquilo que espera dos cientistas. Nenhum de nós espera que os políticos façam tudo bem, mas qualquer sugestão de incerteza pode desacreditar toda uma área científica aos olhos do público. A razão de ser de tudo isto pode estar no processo de votação. No momento de votar há um contrato não escrito entre a sociedade e os políticos, que diz que, embora eles possam não ser perfeitos, os aceitamos como o melhor de que d

Um exemplo da história

Jornal i por Jaime Nogueira Pinto, Publicado em 30 de Junho de 2009 Nun'Álvares é o exemplo de que com fé e coragem se consegue o mais difícil. E muitas vezes o mais difícil é o caminho da vitória Andei estes últimos meses à volta da figura do Condestável de Portugal, D. Nuno Álvares Pereira, agora santificado por Bento XVI e cujo nascimento em 1360 se comemora a 24 (ou 25) de Junho. Foi uma incursão num período que conhecia bem no capítulo da teoria política e da história militar. E ao personagem conhecia-o há muito, pois, miúdo da instrução primária, o meu Pai deu-me "A Vida de Nun'Álvares" de Oliveira Martins. Hoje, olhando Nun'Álvares com outra leitura e experiência, o que me continua a fascinar no homem - o santo é outra história - é a sua capacidade de decisão, a sua coragem de escolher coerentemente e avançar com todas as consequências. Isto sem ser um cabeça quente, um desses militarões básicos, bravos fisicamente, atirados para a frente, mas que às ve

Contrastes na saúde

Henrique Leitão RR on-line 30-06-2009 20:05 Nos últimos três meses, por causa da doença de uma pessoa de família, tive contacto directo e prolongado com vários serviços de vários hospitais do Estado. Apesar da amostra em si não ser muito grande, o contraste não poderia ser maior. Os serviços que conheci e os profissionais médicos, enfermeiros, técnicos, com que contactei vão do excelente ao péssimo. Em alguns casos, não tenho senão palavras de elogio e de agradecimento pela qualidade técnica ou profissionalismo, a eficiência e a humanidade com que vi os pacientes serem tratados. Mas vi também o oposto: o desleixo, a sujidade, a incompetência e até a má criação. As duas considerações que ocorre fazer são evidentes. A primeira, é a de que pôr mais serviços que se montem ou equipamentos que se adquiram, em última análise, são sempre as pessoas que fazem a diferença. A segunda é esta: e estes profissionais, que vi prestarem serviços tão diferentes, têm sido tratados diferentemente? S

Frase do dia

Assustamo-nos com mais frequência do que nos magoamos; e sofremos mais na imaginação do que na realidade Séneca (4aC-65dC)

Caritas in vertate

Caritas in Ver It Ate

Problemas de que não se fala

João César das Neves DN 20090629 Ainda não é conhecida a estratégia argumentativa dos partidos para as eleições, mas uma coisa é certa: não passará pelos verdadeiros problemas nacionais. Apesar disso, talvez valha a pena descrever brevemente essas questões de fundo de que não se falará estes meses. O nosso principal problema é a decadência populacional. Portugal está em vias de extinção: em 2007 já nasceram menos pessoas do que morreram. A nossa taxa de fertilidade, que desde 1983 é inferior à de reposição das gerações e desde 2002 à média europeia, atingiu agora um dos valores mais baixos do mundo (1,3 filhos por mulher), só comparável ao Japão. Ao contrário do Japão, por cá uma percentagem crescente dos nascimentos vem de famílias imigrantes. As consequências que a degradação da família terá no equilíbrio social, desenvolvimento económico, estabilidade cultural e futuro nacional são incalculáveis. Os outros países europeus, com problemas menores que o nosso, têm há anos pol

29 de Junho - S. Pedro e S. Paulo

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CESARI, Giuseppe Nossa Senhora e o Menino com S. Pedro e S. Paulo 1608-09 Óleo sobre tela, 174 x 120 cm Nelson-Atkins Museum of Art, Kansas City

Futilidades

PÚBLICO, 28.06.2009, António Barreto Retrato da Semana Partidos e comentadores multiplicam-se em reflexões acerca das vantagens e dos inconvenientes das datas das eleições É extraordinária a maneira como, entre nós e desde que os partidos políticos entrem em cena, qualquer pequeno problema de menor importância assume rapidamente as dimensões de catástrofe ou de espectro ameaçador. Ou de grande divisor de razões e sentimentos. Agora, foi a vez das datas das eleições. O que já se disse deixa invejoso um escritor de ficção científica! Partidos, comentadores e analistas multiplicam-se em sofisticadas reflexões acerca das vantagens e dos inconvenientes de 27 Setembro e de 4 e 11 Outubro. O nó da questão era a simultaneidade das eleições autárquicas e legislativas. Questão fútil e sem consequências, mas que teve a capacidade de excitar o condomínio fechado em que se transformou a política nacional. A marcação da data, pelo Presidente da República, pôs termo à discussão. Mas o que foi d

A "renovação" que se exige

PÚBLICO, 27.06.2009, José Pacheco Pereira Renovar significa escolher pessoas que mostrem ter uma intransigência grande com a corrupção Quando Churchill chegou em 1940 ao lugar de primeiro-ministro de uma nação em guerra e a perder essa guerra, tinha quase quarenta anos de experiência parlamentar. Tinha sido quase tudo o que se podia ser: militar, estratega, parlamentar, ministro, jornalista, escritor, historiador, homem público, tudo. Era certamente uma das faces mais "gastas", como agora se diz, da vida política britânica. Era, com igual certeza, uma das pessoas que menos "renovação" traziam ao governo, ele que já por lá tinha passado várias vezes e algumas delas de forma bem conflitual. Era, com a certeza das certezas, uma personalidade "pouco consensual", tendo distribuído uma seara de ódios, de facções, de confrontos, de polémicas, ímpar nesses mesmos quarenta anos que o século durava. Tinha inimigos, completamente hostis, que o consideravam tu

Frase do dia

O que é um cínico? Alguém que sabe o preço de tudo e não sabe o valor de nada Oscar Wilde

Apresentação de livro

Epossivel viver assim

Brincar com coisas sérias

Maria José Nogueira Pinto DN20090625 O Instituto Português da Juventude - que ainda hoje não sei ao certo para que serve - teve uma ideia: realizar testes de sida nas escolas, contemplando com este "brinde" alunos entre os 12 e os 25 anos. Fiquei estupefacta com a notícia desta iniciativa e assaltaram-me várias dúvidas. Qual o papel do Ministério da Saúde? Financiar o projecto? Então este projecto, claramente de saúde, com objectivos de prevenção da sida, envolvendo rastreios, só tem a chancela de um instituto público fora da sua tutela? Para além do ridículo da inversão dos papéis - o Ministério paga um projecto alheio que devia ser próprio e o Instituto executa um projecto próprio para o qual não tem nem vocação nem competência - os riscos são evidentes. A quem reportam os técnicos de saúde? Quem assume a responsabilidade pelos resultados? Quem assegura uma resposta imediata para os jovens cujo teste seja positivo? Quem averigua da legalidade ou ilegalidade da minis

Pudor

· João César das Neves ESTAK 25 | 06 | 2009 08.31H O nosso tempo tem um problema com o pudor. Se na vida corrente cada um continua recatado como antes, a cultura oficial faz enormes esforços para eliminar o que considera «preconceitos». Revistas, publicidade, filmes, televisão estão cheios de nudez aberta ou sugestões sexuais. Ser desinibido é imposição social. A pornografia passa por arte e a moda impõe o erotismo. Isso tem efeitos no quotidiano. No Verão as ruas parecem praias e todos fingem ignorar o efeito lúbrico da exposição corporal. Em poucas décadas passou-se da dama que não mostrava o tornozelo para a que quase só tapa o tornozelo. Mas não se deve dizer que a cultura não tem pudor. A natureza humana nunca muda, só altera as aparências. O nosso tempo tem muita modéstia, mas em coisas diferentes. Por exemplo, em religião. É muito curioso notar como hoje se tem muito cuidado em ocultar pudicamente os sentimentos espirituais. Crentes e até clérigos gostam d

Frase do dia

Cavalheiro é aquele que nunca ofende os sentimentos de ninguém sem intenção Oscar Wilde

Discurso do Presidente da República na Sessão Solene Comemorativa dos 900 Anos de Nascimento do Rei D. Afonso Henriques

Guimarães, 24 de Junho de 2009 Senhor Presidente da Câmara Municipal, Senhor Presidente da Assembleia Municipal, Minhas Senhoras e meus Senhores, Recebi, com profunda emoção, das mãos deste pequeno Afonso, esta Medalha de Ouro que a cidade de Guimarães dedica ao Rei D. Afonso Henriques. Serei, enquanto Chefe do Estado Português, o seu fiel e dedicado depositário. A figura de D. Afonso Henriques ergue-se, perante aqueles que lhe sucederam, como o primeiro elo de uma longa corrente que nos liga, a nós que vivemos no presente, aos actos fundacionais. Essa corrente, a que o Fundador deu começo, entendemo-la como uma âncora que nos firma ao que somos. Uma âncora que não nos prende ao passado, mas que assegura que o passado está vivo em nós. Sabemos que, quanto mais profunda é a raiz, mais alto alcançam os ramos que dela se nutrem. E que é condição de uma vida autêntica manter tão presentes o ponto de partida e o caminho percorrido como os projectos futuros. A tradição ancor

Homens errados nos lugares errados

Raquel Abecasis RR on-line, 22-06-2009 13:21 O presidente do IDT devia zelar pela diminuição do problema da droga junto da população em geral e dos jovens em particular, julgamos nós. Nada de mais errado... João Goulão é presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência. Logo, pensamos nós, deveria zelar pela diminuição deste problema junto da população em geral e dos jovens em particular. Errado. Para este senhor, quem na juventude não fuma charros é betinho e a melhor mensagem a passar é a de redução de danos e não a de evitar que a droga entre na vida de muitos jovens. Duarte Vilar é presidente da Associação para o Planeamento Familiar. Supostamente, devia zelar para que a divulgação de medidas de planeamento familiar reduzissem idealmente para zero o número de abortos, legais ou ilegais, em Portugal. Errado. Cada vez que são divulgados novos números sobre o aumento de abortos, como ainda recentemente aconteceu, este senhor festeja com declarações a sublinhar que a evo

Frase do dia

Quem virá a ser este menino? Lc 1, 66 (do Evangelho de hoje)

Um dom imenso

Padre Nuno Serras Pereira in: Logos Quem quase toda a vida viveu, como eu, “empadralhado”, isto é, rodeado de Padres poderá ter uma grande dificuldade em reconhecer o dom imenso que eles representam. A dois meses e meio, mais ou menos, de nascido, a 9 de Janeiro de 1954, fui banhado nas vivificantes águas Baptismais, por um deles, na Capela de casa dos meus avós, na Paróquia do Santíssimo Sacramento, no Porto. Na meninice, antes da escola, habituei-me não só a ir à Missa Dominical, mas também a ver como visitas habituais em casa de meus pais e avós, de ambos os lados, sacerdotes que lá almoçavam ou jantavam. Depois, frequentei durante 10 anos o colégio de S. João de Brito, dos Padres Jesuítas. Esta convivência quotidiana fez de mim, por assim dizer, um católico mimado que se sentia no meio deles com o mesmo à vontade que com a família mais chegada. Tiveram por isso, com uma paciência de Job, de aturar as minhas birras, desleixos, más-criações, rebeldias, arrogâncias e presunções. Olha

Frase do dia

O medo da morte é consequência do medo da vida. Um homem que vive intensamente está preparado para morrer em qualquer altura Mark Twain ·

Os três venenos da democracia

Diário de Notícias, 20090622 João César das Neves Portugal tem uma democracia a funcionar. Esta frase banal constituiu uma novidade espantosa. Aqueles que hoje criticam políticos e instituições esquecem as diferenças abissais face aos desastres democráticos anteriores. Após desilusões seculares, Abril conseguiu pela primeira vez um sistema livre e estável. As experiências portuguesas com regimes constitucionais, liberais e republicanos foram vergonhosas. Alguma tradição historiográfica pintou com cores negras o absolutismo de D. Miguel e a pseudoditadura de João Franco para exaltar os sucessores. Mas, apesar de prodígios de imaginação e omissão histórica, não restam dúvidas de que as mudanças de 1834 e 1910 criaram das piores calamidades políticas na nossa terra. Os intelectuais portugueses, que tanto criticaram o que viviam, fizeram depois coisas muito piores. O século anterior a 1926 mostrou que Portugal não sabia viver em democracia. Intriga e corrupção, nepotismo e instab

Frase do dia

Quando não conseguimos fazê-los ver a luz, façamo-los sentir o calor Ronald Reagan

Democracia e competência

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PÚBLICO, 21.06.2009, António Barreto Retrato da Semana É longa a lista de investimentos públicos com política a mais e estudo a menos, com muita demagogia e pouca ciência O"manifesto" dos economistas, propondo um período de reflexão sobre os grandes projectos de obras públicas, foi bem aceite. O que sugerem é razoável. Nada acrescentou ao que muitos, incluindo eles próprios, vêm dizendo há meses. Mas, desta vez, o facto assume nova dimensão. Na verdade, fizeram-no em conjunto, em papel escrito e assinado, com um suplemento de responsabilidade. São treze antigos ministros do PS e do PSD: oito das Finanças, dois da Economia, dois da Indústria e um da Agricultura. Quase todos professores universitários. Sem demagogia, fazem o diagnóstico severo da economia e das finanças. Pedem seriedade e rigor. Alertam para a hipoteca que, graças ao endividamento, pesa sobre as gerações futuras. Propõem uma avaliação dos grandes investimentos. Sobre os fundamentos desta tomada de posição, pou

Um ano, uma referência

Aura Miguel RR on-line 19-06-2009 15:46 Começa hoje o Ano Sacerdotal e Bento XVI propõe, como referência aos padres de todo o mundo, o exemplo e ensinamentos do Santo Cura d’Ars, João Maria Vianney. Este pároco francês morreu há 150 anos. Falava do sacerdócio com imenso fascínio e dizia mesmo que se o padre realizasse a importância da sua vocação, “morreria, não de susto, mas de amor, porque Deus lhe obedece, porque o padre pronuncia duas palavras e à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia”. Aos seus paroquianos o Cura d’Ars explicava: “Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, se não houvesse ninguém para nos abrir a porta? O Padre possui a chave

A velha a mota e nós

Padre Nuno Serras Pereira In: Logos, 20090617 1. a) Um dia, nos idos da minha juventude, caminhando eu pela Avenida de Roma, da praça de Londres para o Lg. Frei Heitor Pinto, um pouco antes de chegar ao cruzamento com a linha férrea, perto do Maria Matos, deparei com um aglomerado de gente no meio da via - naquele tempo, tirante as horas de ponta, o trânsito era escasso -, rodeando espavorida uma velhinha estendida no alcatrão, empapada no próprio sangue que lhe corria abundante de uma perna praticamente decepada. A pouca distância uma Gilera 50 empenada, modelo recentíssimo em Portugal, gotejando gasolina. De pé, com o capacete na mão, pálido como a cal mais branca, um jovem que logo percebi ser o condutor do motociclo. Uma vez que já se tinha chamado o 115 (hoje 112) e a mulher estraçalhada estava sendo assistida pelos populares, procurei confortar o moço dirigindo-lhe uma pergunta com o intuito de lhe possibilitar uma oportunidade de desabafar. A sua resposta pronta, gélida, dura,