Não sabem o que fazem

DN, 20100104 JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Como previsto, a lei de legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo segue o seu caminho. Nenhuma consideração de bom senso ou legitimidade democrática a parece deter. Em breve, dizem, Portugal terá a honra de figurar na reduzida lista dos países livres, modernos e progressivos.

Alguns aspectos do processo são bastante curiosos. Um dos mais hilariantes é o facto de o Governo não se dar conta do ridículo da situação. Empossado para resolver os problemas do País não mostra a menor capacidade de o fazer. O desemprego explode, a justiça embrulha-se, a educação discute, a saúde engorda, a economia afunda-se em dívidas sem que as autoridades manifestem sequer compreender o que há a fazer. Não convencem ninguém e só conservam o poder porque ainda se confia menos nas alternativas. Neste panorama desolador mantêm uma pose infantil de dignidade graças a iniciativas abstrusas como esta. Algumas são caras, negativas, prejudiciais. A mais tola é o casamento dos homossexuais. O mesmo Executivo que foi homicida na liberalização do aborto e irresponsável na facilitação do divórcio é agora apenas patético insistindo na lei perante a desgraça dos desempregados, descalabro financeiro, apatia geral.

Se a tolice dos políticos não admira, o elemento surpreendente é essa indiferença da população. Qualquer que seja a posição que se tome neste assunto, é consensual que se trata de uma mudança fundamental, decisiva. Mesmo se esta geração já viu os citados ataques muito piores contra a família é estranho o desinteresse global.

Aqui actuam décadas de doutrinação serena e insistente. Não se consegue anestesiar um povo para tolices destas sem um esforço longo e atento. Mas com trabalho intenso e paciente é possível levar multidões até a aceitar as maiores selvajarias, como mostraram jacobinos, nazis, estalinistas e tantos outros. Uma lei tonta nem custa nada.

Para mais, hoje o mal tem uma máquina de propaganda que nunca teve. Todos nós, todas as noites, sentados no sofá, assistimos a atrocidades incríveis, chacinas psicopatas, planos maquiavélicos. Chamamos a isso divertimento. É verdade que em geral o bem ainda ganha no fim dos filmes e séries. Mas começam a multiplicar-se os casos em que justiça não tem a última palavra. Chama-se a isso realismo. Claro que depois dessas doses maciças de violência, sexo e adrenalina nos sentimos normais. Mas vamos cedendo e perdendo a capacidade de nos indignar, distinguir diferenças, analisar problemas. O jornalismo vive de clichés, boatos, intrigas, julgamentos apressados. Tudo nos embota a sensibilidade, amortece o raciocínio, tolda o juízo.

É verdade que a mesma máquina de controlo mental também nos instila indignação, discernimento e análise, mas em coisas secundárias. Hoje se um homem abandonar a família para fugir com a mulher de outro é mera expressão de sensibilidade, manifestação legítima do direito ao amor. Mas se forem a fumar serão severamente censurados.

Assim, perante a mudança do conceito de casamento, alteração muito mais radical que a revisão constitucional, a maior parte das pessoas nada mais diz senão que cada um faz da sua vida o que quer e todos merecem respeito. Duas afirmações verdadeiras e irrelevantes ao tema. Se o Governo pretendesse mudar a definição de pensionista, sindicato, eleitor ou contribuinte a discussão seria enorme, sem ninguém invocar a liberdade e respeito. Mudar o casamento faz--se numa simples manhã, entre dois decretos polémicos.

O futuro terá dificuldade em compreender esta apatia. Nós que nos dizemos tão sensíveis aos direitos humanos, tão sofisticados na estrutura legislativa, tão delicados no detalhe regulador, mostramos a maior boçalidade em assuntos cruciais.

Todos estes graves disparates sociais acabarão por desaparecer. Há 50 anos os intelectuais queriam eliminar os mercados, há 100 anos destruir a religião, há 200 enforcar a nobreza. Hoje, tudo isso não passa de horrores antigos que temos dificuldade em entender. O futuro terá dificuldade em entender os nossos.

Comentários

Mila disse…
Concordo plenamente com tudo o que está escrito neste artigo! Mas com o que mais me identifico, é com o seu final! Acredito plenamente, que não serão precisos muitos anos, para toda esta podridão cair por terra e os seus promotores, também. Sou católica e, por isso acredito no Triunfo do Imaculado Coração de Maria, tal como N.Senhora prometeu.Este desejo de satanás e dos seus pobres seguidores, de convencer o mundo que Deus não existe e, se existe, não tem poder para intervir nestas desgraças. Mostrar que só o prazer conta...é o seu maior empreendimento!...Para isto tudo mudar de direcção, bastava os padres abrirem as igrejas de par em par, exporem o SS.Sacramento meia duzia de cristãos fervorosos e convictos a adorarem o nosso Deus. O Rosário, tal como N.Senhora pediu em Fátima a três crianças incultas e inocentes, parou a guerra e portanto, mudou a face do mundo! Hoje, é a mesma coisa!...Tudo pode ser mudado pela força da oração. Nós cristãos, temos na mão, a força mais poderosa do mundo: A oração em acção. Vamos para a luta? Se cada paróquia se comprometesse com 24h, poderiamos ter sempre o SS Sacramento exposto e o encardido, teria de arredar pé, quisesse ou não !
Cenoura disse…
A lista de prioridades do Homem é, de facto, uma tristeza.
Vivemos mesmo os últimos tempos...
Mila disse…
Talvez o Parlamento Europeu, venha em nosso socorro, já que os governantes que alguns escolheram, nos traíram!
E se enviássemos as assinaturas do referendo para o tribunal europeu ?
Talvez sejam menos arrogantes e ditadores, e nos ajudem, já que nós nos encontramos totalmente embrulhados na lama e nos falta o Oxigénio para pensar!...a intoxicação é tão grande,que já não é possível reflectir. A morte é iminente!...

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