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A mostrar mensagens de novembro, 2010

O bem da má vontade

Público, 2010-11-30  Miguel Esteves Cardoso A Maria João não gosta de agriões. Odeia. Mas, de vez em quando, quando tem pena de mim, faz-me a melhor salada de agriões do mundo. Detesta lavá-los e arranjá-los. Detesta temperá-los. Mas, por obrigação, com sacrifício e perda de prazer e de tempo útil, faz-me uma salada de agriões. Eu aprecio mais a salada - dá-me mais gosto por causa disso. Também eu, não em contrapartida mas em compartida , meto-me em trabalhos por causa dela, que me custam, porque sei que ela vai gostar. O prazer de ver o outro feliz é verdadeiro e bom - mas não compensa, em termos de tempo e de energia gastas (incluindo o que não se fez por estar a fazer aquilo que não nos apeteceria, se fosse só por nós). É uma dádiva. É treta dizer-se que se cozinha com amor ou por paixão. Tudo o que eu comi de bom foi cozinhado com tédio, por dinheiro ou dever, com raiva de perder assim o tempo, por tão pequeno lucro. O acompanhamento é a exigência, vinda dos anos 60, que n

O direito a não saber

Público, 2010-11-30  Pedro Lomba Façam esta pergunta a vocês mesmos: quando o Correio da Manhã , seguido do DN , transcreveram excertos de escutas denunciando as opiniões de Edite Estrela sobre os seus colegas europarlamentares, o que ficámos nós a conhecer de útil sobre o caso? Nada. Não nos tornámos cidadãos mais informados ou lúcidos por sabermos o que Edite Estrela diz em privado sobre outros socialistas, com quem porventura até costuma almoçar amenamente em Bruxelas. De permeio, destruímos um valor capital: a privacidade de um político, incluindo o seu respeitável direito à hipocrisia. Quando o mesmo Correio da Manhã , acompanhado do semanário Sol e de outros jornais que não deixaram de ecoar essas notícias, expuseram trechos de escutas sobre as manobras de Rui Pedro Soares/José Sócrates no caso da compra da TVI e o inconcebível caso Luís Figo/Taguspark (a compra dos direitos de imagem de Figo pelo canal de uma empresa com capitais públicos), o que ficámos nós a conhecer de pol

30 de Novembro - Santo André

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A crucifixão de Santo André Caravaggio ca. 1607 Óleo sobre tela, 202,5 x 152,7 cm Museum of Art, Cleveland ____________________________________ O primeiro a ser chamado, o primeiro a dar testemunho «Como é bom, como é agradável, viverem os irmãos em unidade» (Sl 132, 1). [...] Depois de ter estado com Jesus (Jo 1, 39), e de ter aprendido muitas coisas, André não guardou esse tesouro para si: apressou-se a ir ter com seu irmão, Simão Pedro, para partilhar com ele os bens que recebera. [...] Repara no que ele diz ao irmão: «Encontrámos o Messias (que quer dizer Cristo)» (Jo 1, 41). Estás a ver o fruto daquilo que ele tinha aprendido há tão pouco tempo? Isto é uma prova, a um tempo, da autoridade do Mestre que ensinou os Seus discípulos e, desde o princípio, do zelo com que estes queriam conhecê-Lo. A pressa de André, o zelo com que difunde imediatamente uma tão grande boa nova, dá a conhecer uma alma que ardia por ver cumpridas todas as profecias respeitantes a Cristo. Partilhar a

Frase do dia

Nenhum homem tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso bem sucedido Abraham Lincoln

Banco Alimentar recolhe mais 30% de alimentos que no ano passado

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RR on-line 29-11-2010 10:09 Campanha bate recorde de recolha de alimentos. A campanha do Banco Alimentar contra a Fome recolheu mais de três mil toneladas de alimentos durante o fim-de-semana. Face ao ano passado, trata-se de um aumento de 30%. Banco alimentar recolhe mais de três mil toneladas de alimentos “O balanço é muito muito positivo e superou todas as nossas melhores expectativas”, refere Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar. “No final da campanha, foram recolhidas 3.260 toneladas de alimentos, naquilo que constitui um acréscimo de 30% em relação à mesma campanha do ano passado. Houve um banco alimentar onde só acabaram de arrumar as coisas já de madrugada, pelas seis da manhã, apesar de muitos [voluntários] terem hoje um dia de trabalho”,

Mãos à obra

Raquel Abecasis, RR online 29-11-2010 08:46 Há uns meses, um piloto da TAP deparou-se com uma situação que o chocou. Verificou que, diariamente, milhares de refeições confeccionadas em cantinas e outros estabelecimentos eram lançadas para o lixo, por não serem consumidas. Escandalizado, recorreu ao Presidente da República, que remeteu a questão para o Parlamento. Passou o tempo e, da casa da democracia, nem uma única resposta. O cidadão resolveu, então, recorrer a uma petição, via Internet, para que a lei europeia tivesse alterações em Portugal, a fim de poder matar a fome a milhares de pessoas, que necessitam daquelas refeições para sobreviver. A petição tem já milhares de assinaturas , que vão obrigar o Parlamento a discutir o assunto a que tentou escapar. É um bom exemplo de que, por cá, o melhor é cada um começar a tentar resolver por si aquilo que considera urgente, porque da nossa actual classe política só podemos esperar guerras desinteressantes por um poder que, graças a

Benefício da dúvida

DN2010-11-29 JOÃO CÉSAR DAS NEVES O pior na crise actual é a falta de esperança. A decomposição acelerada do Governo põe todos a pensar em alternativas. Mas nenhuma granjeia um mínimo de credibilidade. As coisas estão mal e só se vislumbra que piorem. O mais grave não é o sofrimento actual. É não se ver saída. É importante dizer que este desânimo não vem da situação real. As circunstâncias são duras mas claras. Não é difícil saber o que há a fazer. O caminho é exigente mas sem mistérios. Vivemos em décadas recentes situações bem piores de onde saímos bem. E então a desorientação e desilusão não eram tão grandes como agora. É verdade que a geração actual tem um grau de exigência diferente, sem a capacidade de trabalho e poder de encaixe dos seus pais. Mas quem não tem dinheiro não tem vícios, e quando não há escolha as condições depressa ensinam a saída. Mesmo assim temos de admitir que as dúvidas sobre o sucesso do futuro Governo, qualquer que seja, são legítimas e justificadas. N

O amor mais forte do que o ódio - impressões do filme "Dos homens e dos deuses"

Em Outubro, a minha atenção foi despertada pela capa de duas das revistas francesas de maior difusão ( L´Express e Le Fígaro Magazine ) que, na mesma semana, davam grande destaque ao filme Dos homens e dos deuses , sobre os últimos momentos da vida dos monges trapistas do mosteiro de Nossa Senhora do Atlas, na Argélia, raptados por um grupo terrorista de matriz islamista, e depois assassinados em condições ainda não bem esclarecidas, em 1996. «Estes monges que agitam a França»; «Do filme ao fenómeno» - eram títulos dessas capas, que evidenciavam o extraordinário sucesso de um filme sobre a vida e as escolhas radicais desses monges. Um sucesso esperado junto do público católico, mas também um inesperado sucesso junto de não crentes, atraídos pela qualidade artística do filme (seleccionado como candidato francês ao Óscar) e, sobretudo, pelo testemunho desses homens e as questões que ele coloca sobre o sentido da vida, do amor e da morte. O filme emocionou bispos e cardeais. O cardeal J

Homilia de D. João Lavrador na vigília de oração pela vida nascente na Sé do Porto

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Vigília de Oração pela Vida Nascente

Padre Duarte da Cunha, secretário-geral do CCEE Agência Ecclesia, 2010.11.25 A proposta foi lançada pelo Papa em Junho deste ano, anunciando que, na véspera do primeiro Domingo do Advento, se propunha a dedicar um tempo de oração pela Vida nascente. O Papa convidou toda a Igreja, as dioceses, mas também as paróquias, as comunidades religiosas, os movimentos e grupos a unirem-se a ele nesta Vigília de Oração. Recordar as crianças que estão por nascer mas já foram concebidas tem as duas notas típicas do Advento: a esperança na vinda de Deus – de que cada criança desde o momento da concepção é um sinal – e o apelo de Deus a que todos assumam a responsabilidade de promover e defender a vida em todas as suas fases. A Europa atravessa actualmente, como todo o mundo ocidental, uma trágica crise demográfica. Aquilo que muitos já chamam o inverno demográfico pode ter várias razões: o medo do futuro, a falta de esperança, o cansaço, o materialismo, o egoísmo, a falta de comoção perante uma vida

Concertos de Natal na Igreja de Marvila

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Grande Jantar de Natal da Federação Portuguesa pela Vida

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Ciclo de Cinema Católico 2 a 5 de Dezembro Almada

A Ilha Deus tem necessidade dos homens O Jardineiro de Deus O nono dia Ciclo de Cinema Católico

E se o sonho da moeda única acabar em desastre?

Público, 2010-11-26 José Manuel Fernandes Tudo leva a crer que, pelo menos no futuro mais próximo, os PIIGS serão sempre PIIGS. E por culpa própria Há uma razão simples, crua, para esta semana vários líderes europeus, de Angela Merkel a Herman van Rompuy, terem dito que o euro estava em risco: a crise mostrou que o actual edifício da moeda única não tem forma de se manter de pé. Pode ser amparado, mas nunca sobreviverá tal como o conhecemos. Resta saber se pode ser reconstruído, mas já lá vamos. Primeiro que tudo, o que é que se passou com a Irlanda? O que é que levou um país cujo produto per capita é sensivelmente o dobro do português, com uma economia privada saudável, um país com um salário mínimo três vezes mais elevado do que o nosso, a adoptar uma redobrada austeridade que passa, também, por reduzir esse salário mínimo? Talvez esse mesmo salário mínimo seja um entre muitos sintomas de alguns dos maus hábitos que levaram o "tigre celta" a engordar e a perder os seus

LG - Momentos

Um país, dois sistemas

Helena Matos, Público, 2010-11-25 Há um vago ar de dia de ponte porque muito boa gente, sobretudo no sector público, está de "nim" à greve As notícias dizem que estamos em greve geral. Na rua por onde passo de manhã tudo funciona: cafés, o talho, o restaurante, a farmácia, a tabacaria e o quiosque. O mercado está cheio, os supermercados também. Cheio está também o parque automóvel duma editora que se estabeleceu aqui no bairro. À porta do colégio é o habitual corrupio de carros e crianças. Para geral a esta greve falta-lhe muito. É sim uma greve no sistema público. No sistema privado quase não há greve. No meio de tudo isto há um vago ar de dia de ponte porque como uma greve geral se traduz basicamente por conseguir paralisar os sectores que são essenciais para os outros poderem trabalhar - como as escolas e os transportes - muito boa gente, sobretudo no sector público, está de "nim" à greve. Ou seja, oficialmente não trabalham porque não têm onde deixar os filh

Um atentado clandestino contra a Língua Portuguesa

Público, 2010-11-25 José Ribeiro e Castro ( [1] ) L embra-se de ouvir o Governo defender a Língua Portuguesa e a afirmação internacional do seu estatuto? Esqueça. O Governo Sócrates acaba de desferir-lhe um rude golpe. De modo sorrateiro, no meio do tropel do debate orçamental e da crise, o Conselho de Ministros de 28 de Outubro, aprovou um Decreto de adesão ao chamado “Acordo de Londres”, no âmbito da Convenção da Patente Europeia (Convenção de Munique). Esta decisão, hermética para a generalidade do público, vai no sentido de fazer substituir quase integralmente o Português pelo Inglês na validação em Portugal do registo europeu de patentes, o que lesa gravemente os muito importantes interesses internacionais da Língua Portuguesa e também os legítimos interesses nacionais da propriedade industrial. Trata-se de uma adesão claramente precipitada e, no mínimo, prematura. E, sobretudo no tempo e no modo como é feita pelo Governo, desfere uma machadada, forte e inesperada, na afirmação