Basta de apatia

Graça Franco, RR on-line 24-11-2010 09:45

De mansinho, com a abstenção cúmplice do PSD, o Governo, através do PS, fez ontem aprovar uma alteração ao Orçamento que coloca o sector empresarial do Estado fora dos anunciados cortes salariais.

Não fora o ministro, Jorge Lacão, antecipar as manchetes dos jornais de hoje explicando, depois, a medida aos jornalistas e a coisa tinha passado “de fininho” como convinha. Sem que os mercados pudessem tomar nota de mais este recuo no pacote de austeridade anunciado. E, em vésperas de greve geral, pairaria aqui e ali a vantajosa dúvida sobre quem afinal vai ver reduzido o seu salário.

O pretexto para condicionar os cortes, na generalidade das empresas de capitais públicos, “às adaptações justificadas pela sua natureza empresarial” ( como agora diz a lei) foi a pretensa necessidade de evitar a fuga de quadros da Caixa Geral de Depósitos.

E será que o povo acredita que os melhores quadros da Caixa se passariam, com armas e bagagens em massa para o BPI e o BES, caso estes lhes acenassem com a manutenção do actual salário ( porque privados em condições de contratar não haverá muitos mais…)?
E acredita que aberta esta porta de total discricionariedade a selecção do corte não se fará exactamente poupando os mais incompetentes, os sem currículo, os boys que enxameiam os quadros intermédios e dirigentes de que o sector empresarial do Estado ( banca incluída) se tornou uma enorme colmeia?

Tenho as maiores dúvidas de que uma greve geral seja o instrumento certo para expressar o protesto contra este tipo de gestão da causa pública. Até porque, em muitos casos, no sector privado patrão e trabalhador partilharão a indignação, e se um não pode ver mais reduzido o lucro o outro não poderá abdicar do salário. Mas como D. Jorge Ortiga diz, hoje à Renascença, um “dia de protesto é pouco”.

Com greve, ou sem ela, é preciso lutar contra a apatia. Contra a anomia de um povo que tudo aceita como uma inevitabilidade e parece desconhecer o direito à indignação. E para o exercer um dia de protesto é muito pouco…

Comentários

Anónimo disse…
A minha sugestão:

Publicado no "Linhas de Elvas" de 4 de Setembro de 2008
Greves, Manifs ou Votos?
Miguel Mota

A grande maioria dos portugueses, que já eram do grupo dos de menor poder de
compra entre os países da União Europeia, tem visto esse baixo poder de compra
baixar ainda mais desde o ano 2000, tendo essa redução sofrido uma grande
aceleração desde 2005, com o governo que ainda está no poder. Não deve ter sido
inferior a 20% a perda de poder de compra nestes três anos e meio, a maior de
sempre sofrida pela grande maioria dos portugueses. Apenas a minoria dos mais ricos
viu os seus proventos aumentarem.
Como resultado, as famílias, que se endividaram para um determinado nível de
vida, ao sofrerem essa brutal perda do poder de compra viram-se a braços com
encargos que, se eram suportáveis com o nível anterior, deixaram, em muitos casos,
de o ser, logo que os seus proventos desceram e os custos aumentaram. Aumentos de
impostos (tão veementemente negados durante a campanha eleitoral!) e taxas várias;
congelamentos de ordenados (ou aumentos inferiores à inflação), escalões e
promoções; aumento do desemprego; reduções nos proventos, como nas pensões dos
funcionários públicos, que passaram a descontar para a ADSE (com total desprezo
pelos anteriormente sagrados "direitos adquiridos"); extinção de muitos serviços
públicos, obrigando a custosas deslocações ou a pagar a privados (que em muitos
casos logo abriram a sua "loja" nos locais dos serviços extintos); a destruição de
importantes actividades de natureza económica, como a agricultura (com bons
proventos para os importadores de produtos agrícolas que aqui devíamos produzir, de
melhor qualidade e mais baratos), foram ocorrências constantes nestes três anos e
meio. E tudo isto como resultado de acções dum governo que tem o descaramento de
se dizer "socialista" e "de esquerda" e que não é uma coisa nem outra. (.......)
Quanto a protestos, são poucos e fracos. Com excepção de dois, que reuniram
muita gente, mas cujos ecos em breve desapareceram, foram perfeitamente inócuos.
Também houve algumas greves, de escasso ou nenhum efeito. Quando as greves são
em organismos do estado, o governo é quem ganha. (......)
Só vejo duas formas de corrigir uma tão má situação, em que cada vez mais nos
atrasamos em relação à Europa. Uma é fazendo uma revolução, tão justificada como a
de 28 de Maio e a de 25 de Abril, perante a situação do país. Para isso são necessárias
espingardas e há sempre o risco de fazer sangue. Não é recomendável.
A outra, dentro do sistema vigente, é votar num partido que mereça confiança,
por ter dirigentes competentes, que sejam capazes de desenvolver o país, não faltando
às promessas, aumentando muito a produção (o que é possível) e dando uma
distribuição mais equilibrada dos proventos e encargos (o que também não é
impossível). Aos que me dizem que são todos o mesmo - na realidade, há uns piores
que outros - eu recomendo que, então, façam um partido novo mas indo convidar as
pessoas competentes e honestas - que ainda há em Portugal - capazes de fazerem
muito melhor do que o que temos tido há várias décadas. Se me dizem que Portugal
não tem pessoas capazes de fazer bem a tarefa que se exige e apenas há sujeitos bem
falantes para continuar a afundar o país; ou se me dizem que essas pessoas existem
mas a massa dos cidadãos "não está para a maçada de as convidar e apoiar", então têm
de se resignar a ser um povo atrasado e explorado por esses bem falantes. É pena
(1) Mota, M - Considerações sobre o défice orçamental e a forma de o anular. Jornal dos Reformados nº
318, Outubro/Novembro 2002
(2) Mota, M - O PIB de Portugal pode crescer a 5% ao ano. Jornal de Oeiras de 6-7-2004
(3) Mota, M - Quem pagou a redução do défice. Linhas de Elvas de 17-4-2008

Miguel Mota
Anónimo disse…
Publicado no "Linhas de Elvas" de 4 de Setembro de 2008
Greves, Manifs ou Votos?
Miguel Mota


(.........)
Só vejo duas formas de corrigir uma tão má situação, em que cada vez mais nos
atrasamos em relação à Europa. Uma é fazendo uma revolução, tão justificada como a
de 28 de Maio e a de 25 de Abril, perante a situação do país. Para isso são necessárias
espingardas e há sempre o risco de fazer sangue. Não é recomendável.
A outra, dentro do sistema vigente, é votar num partido que mereça confiança,
por ter dirigentes competentes, que sejam capazes de desenvolver o país, não faltando
às promessas, aumentando muito a produção (o que é possível) e dando uma
distribuição mais equilibrada dos proventos e encargos (o que também não é
impossível). Aos que me dizem que são todos o mesmo - na realidade, há uns piores
que outros - eu recomendo que, então, façam um partido novo mas indo convidar as
pessoas competentes e honestas - que ainda há em Portugal - capazes de fazerem
muito melhor do que o que temos tido há várias décadas. Se me dizem que Portugal
não tem pessoas capazes de fazer bem a tarefa que se exige e apenas há sujeitos bem
falantes para continuar a afundar o país; ou se me dizem que essas pessoas existem
mas a massa dos cidadãos "não está para a maçada de as convidar e apoiar", então têm
de se resignar a ser um povo atrasado e explorado por esses bem falantes. É pena

(1) Mota, M - Considerações sobre o défice orçamental e a forma de o anular. Jornal dos Reformados nº
318, Outubro/Novembro 2002
(2) Mota, M - O PIB de Portugal pode crescer a 5% ao ano. Jornal de Oeiras de 6-7-2004
(3) Mota, M - Quem pagou a redução do défice. Linhas de Elvas de 17-4-2008

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