Quem tinha razão era a "Peta" Jana

Helena Matos, Público 2010-12-16

Cada vez que ouço a ladainha do costume sobre os lares ilegais, mais as famílias a acusarem a segurança social por terem de colocar os "seus idosos" nos lares ditos ilegais mais os jornalistas muito escandalizados com os lares ilegais e os donos dos lares ilegais dizendo que tudo funciona como se fossem legais, confesso que me lembro da Peta Jana. Como é óbvio a senhora em causa chamava-se Perpétua mas a corruptela transformou-a em Peta. Quando começou a envelhecer a aldeia que a vira nascer e crescer estava cheia dumas casas enormes onde já mal se avistavam as antigas e minúsculas casas de xisto que só têm cachet para aqueles que não viveram nelas durante a infância. Simultaneamente na sede do concelho erguera-se um lar para onde de forma inexorável começaram a marchar todos os velhos e agora os já menos velhos da dita aldeia.
Fosse porque tal destino não estava nos seus projectos ou por uma qualquer outra razão, a boa da Peta Jana, perante tal corropio de velhos a caminho do lar enquanto na aldeia as casas, cada vez maiores, ficavam fechadas, concluiu que "dantes as pessoas viviam em palheiros mas cabiam todos lá dentro, agora vivem em conventos e ninguém lá cabe." Falava dos velhos, claro.
Hoje vive-se mais e ou porque deixam de caber em casa ou porque precisam de cuidados especiais os velhos vão frequentemente para aquilo que chamamos lares. O que distingue ao certo um lar legal dum lar ilegal? A dimensão das casas de banho? A qualidade dos serviços prestados? O nosso conceito de legalidade é cada vez mais uma lista de obrigações burocráticas e fiscais que a mim me parece tão inquietante quanto noutros tempos pareceu àquela minha conterrânea o gigantismo daquelas casas onde os velhos afinal não cabiam.

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