Morte e ressurreição

Voz da Verdade
2011.03.06 Pedro Vaz Patto
06 Mar. 2011
Vamo-nos apercebendo, pouco a pouco, de sinais de descristianização crescente da nossa sociedade. Um deles é o dos ritos funerários. Durante muito tempo, mesmo pessoas sem prática cristã regular não rejeitavam os ritos funerários cristãos, dando assim, apesar de tudo, um sinal de fé e esperança na ressurreição, ou mesmo de reconciliação com Deus no momento da morte. Agora já não é tanto assim. Vão-se generalizando até ritos alternativos, como o de fazer espalhar as cinzas do defunto na natureza, num rio ou numa montanha. Assisti recentemente a um funeral desse tipo de uma pessoa querida.
Sei que só Deus conhece bem o trajecto dessa pessoa nos últimos momentos e que a Sua misericórdia infinita não poupa ninguém. Sei também que devo respeitar as opções de cada um (ainda que contrárias a tradições familiares profundas) e a coerência com o que professou em vida. Tal como sei que devo habituar-me à ideia de que funerais desses, sem qualquer marca cristã aparente, hão-de generalizar-se cada vez mais. Mas confesso que ainda não me habituei a essa ideia e que me fica uma sensação de grande desolação ao assistir a esses funerais.
Esta experiência faz-me reflectir sobre a importância do testemunho da riqueza da visão cristã da ressurreição.
A morte não é um fim inexorável que torna vãos, absurdos e inúteis todos os esforços e anseios da nossa vida terrena e que frustra todas as nossas aspirações ao infinito. É só na perspectiva da vida eterna que a vida terrena ganha sentido. A casa que construímos aqui na Terra há-de ser por nós habitada no Céu. Não construímos em vão uma casa inevitavelmente destinada a ser destruída pela morte. Aquilo que aqui experimentamos de bom, verdadeiro e belo, não é ilusório nem perecível, há-de ser experimentado na sua máxima expressão no Paraíso. A beleza do amor que aqui na Terra experimentamos nas suas várias facetas (amor nupcial, materno, paterno, filial fraternal) há-de ser experimentado na sua máxima expressão na união plena e definitiva com Deus, que é Amor e criou o Amor.
O nosso destino não é o de cinzas que se espalham num qualquer lugar. Deus reserva-nos muito mais do que a fusão com a natureza. Não somos apenas uma ínfima parcela que na natureza se perde como uma planta biodegradável. Cada um de nós é único e irrepetível e vale mais do que todos os rios e montanhas, porque tem um destino eterno. Com a morte não nos perdemos num absoluto impessoal. Cada um de nós é chamado a uma relação pessoal, “tu a tu”, de amor com Deus, que começa na Terra e se prolonga para sempre. É esta experiência do amor de Deus que, mais do que tudo, nos faz acreditar em algo de imperecível (porque esse amor não pode morrer), nos faz acreditar na ressurreição.
O próprio corpo já sem vida aguarda a ressurreição, a que também ele se destina, pois somos uma unidade de alma e corpo. Os cemitérios deveriam traduzir a esperança e a beleza que brotam desta fé. Não é por acaso que em Itália são chamados camposanto.
É verdade que nem sempre temos dado testemunho de fé na alegria e beleza da ressurreição. É humana e compreensível a manifestação de dor diante da morte de pessoas queridas. Mas muitas vezes as atitudes de quem participa num funeral cristão de modo algum espelham a fé na ressurreição de que falam os textos litúrgicos que aí são lidos.
Também tive ocasião de participar recentemente num funeral de outra pessoa querida (vítima, ainda jovem, de um cancro implacável) que marcou todos os presentes de forma indelével, pela alegria sobrenatural que experimentaram. A fé na ressurreição transformou numa festa um acontecimento humanamente triste e difícil de aceitar.
A nova evangelização passa também por aqui, por revigorar a fé na ressurreição.
Pedro Vaz Patto

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