Pobres alemães

Público 2011-11-09 Miguel Esteves Cardoso

Nesta história do euro, os governos dos países da eurozona, os seus bancos e a própria União Europeia (talvez a ordem esteja errada, mas a conspiração está certa) têm feito um bom trabalho para desviar as atenções deles próprios (dos governos, bancos e da UE) para alvos mais inocentes e abstractos, como os povos, certas pessoas e culturas nacionais.

As consequências são xenofóbicas. Culpam-se os gregos, os portugueses e os irlandeses. Fala-se, com um etnocentrismo que foi desmascarado há quase cem anos por antropólogos, em culturas de batota (a grega), de preguiça (a portuguesa) e de rancor pós-colonial (a irlandesa).

Quando a cultura nacional é amada - como é o caso da italiana -, individualiza-se a questão. A culpa é do velho sátiro, Berlusconi. Se cedermos a esta propaganda ordinária, que vai contra todas as nossas cumplicidades de pobres contra os ricos, entramos no jogo da ganância dos credores. A pergunta que devemos fazer é a seguinte: "Quanto dinheiro é que cada um de nós pediu emprestado?" Ou, melhor ainda: "Que bela vida foi a nossa, graças ao dinheiro que pedimos emprestado?".

Os gregos não são a Grécia. Nem sequer gregos são: cada grego é um indivíduo, como é qualquer português ou alemão. Os nossos bancos não somos nós. Os nossos governos não somos nós. A União Europeia não somos nós todos juntos. Era o que faltava que agora pusessem os povos uns contra os outros: os alemães não têm culpa. Nós também não. Só alguns.

Comentários

Francisco Melo disse…
Parabéns, é isso mesmo. Esse é o perigo das generalizações, a ignorância. Os inocentes e maioria pagam as culpas dos culpados e minoria.

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