Corra mal, acabe bem

Público 2012-05-14  Miguel Esteves Cardoso

São dias de levanta e cai. Distraímo-nos, pensamos e caímos; afundamo-nos e esticamos as cabeças para apanhar ar e outra ideia da vida que não a pior.

Ser optimista é pensar que vai tudo correr bem. As coisas nunca correm bem - podem acabar bem, temporariamente, ou serem bem interrompidas, durante muito tempo. Mas o correr das coisas está cheio de quedas e levantamentos, de intervalos de espera e de desilusão, de esperança e desespero.

Há três atitudes para com o futuro, para as culturas que erradamente perdem tempo a considerá-lo. A mais irritante e improvável é a portuguesa: vai tudo correr bem.

Mesmo quando se vive até aos 120 nunca tudo corre bem. E acaba sempre mal. Na morte. Mesmo imaginando que tudo corre bem para uma criança de 12 anos que, por milagre, não sofre de nenhuma das doenças ou tormentos infantis e, sem dar por isso, morre de prazer com uma overdose de morfina.

A segunda mais irritante, mas menos improvável, é a hippie-americana: "Acaba tudo bem. Se ainda não está bem, é porque ainda não acabou." Aparece em muitos filmes. A versão clássica, não menos ilusória, é o
 all"s well that ends well.

A menos irritante, mas mais deprimente, é a sufista: "Também isto há-de passar." Sim, passará. Mas a vida também passa. E não há nada que não passe nem se deixe de transformar. "Que corra tudo o menos mal possível e nunca acabe, mas continue, o mais bem possível" é o desejo que mais se deve dizer e desejar.

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