Darth Vader vs. Batman (ou como debater filosofia com a sua filha)

Henrique Raposo (www.expresso.pt)
8:00 Sexta feira, 11 de maio de 2012

A saga Batman de Christopher Nolan e a saga Star Wars são alimentadas pela mesma pergunta-base: até onde podemos ir na defesa do Bem? Qual é o limite do Bem? Ante esta pergunta com o seu quê de teológico, Bruce Wayne e Anakin Skywalker encontraram respostas antagónicas. Comecemos por aquele que deu a resposta errada e que, por isso, é o mais interessante: o anjo caído dos Jedi.

Anakin Skywalker vive angustiado com a presença do Bem, com a possível existência de uma salvação absoluta, com a possibilidade de salvar da própria morte aqueles que ama. Foi assim com a sua mãe. É assim com Padmé. E esta obsessão acaba por ser a chave da transformação. Este casulo obcecado com o Bem é a maternidade do medo e do Mal, Darth Vader. Anakin transforma-se em Vader, porque não encontra um ponto de equilíbrio na sua busca do Bem, porque se julga acima de uma necessidade moral: a colocação de limites ao nosso ego moral ("presunção e água benta..."). O Bem desejado é tão absoluto, que Anakin não admite negociações com a realidade e com os outros. Portanto, no meio da fantasia e das naves, a saga Star Wars acaba por ser uma metáfora sobre a natureza do Mal, sobre a raiz do Mal, que, como já vimos, não está no sítio óbvio. Estou certo que Todorov gostou do desenlace da saga mais popular do século XX.
Se Star Wars é uma aula sobre a crença, o Batman de Nolan é uma palestra sobre cepticismo. Ante a pergunta inicial, Bruce Wayne encontrou uma resposta diferente: sim, devem existir limites à busca do Bem. Ao contrário de Anakin Skywalker, Bruce Wayne não se deixa embriagar pelo Bem, não se deixa cegar pelo seu papel de guardião do Bem. Desta forma, O Cavaleiro das Trevas gira em torno dos limites que Wayne coloca a si próprio. E o Joker surge como o teste final a esses limites. O Mal absoluto - Joker - pode legitimar o poder absoluto daqueles que defendem o Bem? Não. Wayne recusa dar o salto de Anakin.
O Batman aceita compromissos com a realidade. Aceita, inclusive, ser visto como o mau-da-fita, aceita não ser o herói, aceita não ter a glória que merece.Porque esse é o mal menor, e o mal menor é o melhor que se pode ter num mundo sem acesso ao Bem em absoluto. Santo Agostinho ia gostar muito de O Cavaleiro das Trevas.

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