Gentis cavalheiras

Público 2012-08-06
Miguel Esteves Cardoso

Cada vez é mais rara mas ainda se vê a elegância de ganhar nos Jogos Olímpicos de Londres. Desaparecerá. Aproveitemos enquanto subsiste.
Jessica Ennis, a inglesa de Sheffield que ganhou o heptatlo, foi o exemplo dessa boa educação. Ao cortar a última meta, levantou os braços com o alívio de ter chegado primeiro. Quando falou com os jornalistas, mostrou felicidade e gratidão, como se não acreditasse na sorte que teve, respeitando assim a excelência das adversárias.
"You deserve those tears... are you OK?", perguntou o idiota paternalista e comovido da BBC que a entrevistou. Não sabia como reagir. Não reconheceu a elegância de uma vencedora bem educada. Tratou-a como uma histérica: uma campeã que chorava, apesar de ter ganho.
Um gentleman, antigamente, era quem não fazia de show off quando ganhava nem se zangava ou desculpava quando perdia. Este ano foram as mulheres britânicas que fizeram de gentlewomen. Os homens davam murros no ar e aquele gesto feio de puxar o autoclismo ou de fazer "toma!" com o punho. Desaprendendo com os brutos do futebol, os atletas celebravam a derrota dos outros - tornando os outros em losers - em vez de agradecerem a sorte de terem ganho.
Até nos Óscares, os trabalhadores do cinema, venham de que ramo vierem, fazem questão de elogiar os que perderam, fazendo o mínimo sacrifício que é a hipocrisia.
Perder ou ganhar mal ou bem: o que importa não é o verbo; é o advérbio.
Tudo merece e deve fazer-se bem.

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