Remo: Doze medalhas olímpicas 'made in Alentejo'

Cerca de um terço dos atletas medalhados no remo nos Jogos Olímpicos de Londres fizeram grande parte da sua preparação na barragem do Maranhão, em Aviz, no Alentejo. Mas os portugueses Pedro Fraga e Nuno Mendes só lá podem treinar "às escondidas".

Rui Tavares Guedes em Londres
Visão on-line Domingo, 5 de Agosto de 2012
 
No final das regatas em Eaton Dorney, no sábado, 4, na habitual confraternização entre atletas e treinadores de diferentes nações, dois portugueses eram efusivamente cumprimentados por muitos dos remadores com medalhas penduradas ao pescoço. Luís Ahrens Teixeira e Pedro Alte da Veiga retribuíam as saudações e felicitavam-nos, como se estivessem a encontrar velhos amigos, mas também como se sentissem em parte também responsáveis pelas conquistas daqueles títulos desportivos.
"Pelas nossas contas, 'temos' 12 medalhas, seis das quais de ouro", contabiliza Luís Ahrens Teixeira, 38 anos, referindo-se a uma competição que, nas várias classes e nos dois sexos, distribuiu 42 medalhas, 14 delas de ouro. E a que se referem essas contas? Ao atletas da Grã-Bretanha e da Dinamarca, entre outros, que passaram largas temporadas, no último ciclo olímpico, a estagiar na barragem do Maranhão, em Aviz, instalados no hotel que, durante anos como atleta de remo, Luís Ahrens Teixeira foi idealizando e que o seu amigo e arquiteto Pedro Alte da Veiga, 39 anos, fez sair do estirador para um terreno mesmo junto ao curso de água.
O resultado de tudo isto materializou-se na Herdade da Cortesia, um hotel de 4 estrelas com capacidade para albergar até 60 atletas, e na criação da Avizaqcua, uma empresa capaz de fornecer tudo o que uma equipa de alta competição de remo necessita para treinar. Em especial, nos longos meses de inverno, quando é praticamente impossível remar em muitos países do centro e norte da Europa, porque os lagos e as albufeiras ficam gelados.
"A zona de Avis é considerada, por todos, uma das melhores do mundo para a prática de remo. O plano de água é extraordinário e, portanto, só precisávamos de trabalhar bem para trazer cada vez mais atletas para o local", explica Luís Teixeira, que lembra que os dinamarqueses foram dos primeiros a procurar aquela zona, alojando-se, então, nas pensões da região.
Com uma experiência de longos anos no remo, em que chegou a participar em nove campeonatos mundiais em representação de Portugal, Ahrens Teixeira sabia exatamente quais as necessidades de um atleta de alta competição e o que precisava de ser feito. Com base nessas ideias, Pedro Alte da Veiga desenhou um complexo adequado às especificidades de um verdadeiro centro de treino para atletas de alto rendimento. "A isto, acrescentámos um serviço especializado em que tudo funciona à medida das necessidades dos desportistas. Eles não precisam de se preocupar com mais nada, a não ser em treinar."
A Câmara de Aviz também tem ajudado ao projeto, tendo financiado a instalação de uma pista de remo, com dois quilómetros, na albufeira da barragem do Maranhão, criando ainda melhores condições de treino.
A grande mágoa dos dois amigos e mentores do projeto reside no facto de aquelas instalações "serem utilizadas pelas grandes seleções do mundo, menos pela portuguesa."
"O Pedro Fraga e o Nuno Mendes sempre que foram lá treinar foi a nosso convite e às escondidas, para não terem mais problemas com a Federação de Remo", afirma Luis Ahrens Teixeira, lamentando essa situação e elogiando a coragem e a dedicação dos dois remadores portugueses que conquistaram o 5.º lugar nos Jogos Olímpicos: "Eles estão muito acima da realidade do desporto português. E se tivessem uma boa estrutura a apoiá-los teriam discutido, na final, a medalha de ouro com os dinamarqueses. Assim, o que eles fizeram é muito mais do que aquilo que lhes têm proporcionado."
"O grande problema é que, em Portugal, os remadores remam para um lado e há depois outras pessoas a remar ao contrário. A Federação de Remo não está vocacionada para o alto rendimento", acusa. E lamenta, novamente, que Pedro Fraga e Nuno Mendes estejam impossibilitados de ir treinar para a fábrica de medalhas "made in Alentejo", à semelhança do que fazem britânicos, suecos, dinamarqueses e até neo-zelandeses. "Ali, eles teriam hipóteses de treinar, dia a dia, com os melhores do mundo. É o que os outros fazem e, por isso, ganham medalhas."
Links:
www.herdadedacortesia.com
www.avizaqcua.com

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