A decadência da Europa

Sol, 30 de Outubro, 2012 Jaime Nogueira Pinto

Foi há um século a primeira guerra dos Balcãs: enfrentou uma coligação dos Estados cristãos da região – a Grécia, a Sérvia, a Bulgária e o Montenegro – contra o Império otomano, durou até ao Verão de 1913 e foi logo seguida por outra entre Estados da coligação vencedora – a Grécia e a Sérvia contra a Bulgária.
Esta segunda guerra terminou rapidamente com a intervenção da Roménia. Os turcos valeram-se da divisão entre os cristãos para retomarem a iniciativa e recuperar parte dos territórios perdidos.
O pior foi que um ano depois a Europa estava toda na Grande Guerra – o conflito que marcou o princípio do fim do Euromundo e o princípio da decadência do Continente.
A História é assim. A partir da formação da Alemanha Unida, pela estratégia de Bismarck, apoiado no primeiro exército do tempo, a Europa encontrava um novo destino, mas também o princípio do seu fim. Até ali, as potências da periferia geográfica – a Grã-Bretanha e a Rússia – tinham sido, conjunta ou alternativamente decisivas, numa balança de poder feita de mobilidade e equilíbrio de alianças. A França da Revolução e de Napoleão tentara a hegemonia e fora derrotada por uma coligação de geometria variável, mas onde a Inglaterra estivera sempre presente. A Santa Aliança e a Quádrupla Aliança tinham sido tentativas de manter a velha ordem tradicional, a que o nacionalismo e a democracia, novas e vitoriosas ideias, tinham posto termo.
A Alemanha era um produto dessas novas ideias e forças com o realismo modernizante de Bismarck, usando o nacionalismo alemão e a máquina militar prussiana. Bismarck bateu sucessivamente os Habsburgo de Viena e a França de Napoleão III. Depois, deu a cada uma das potências o que ela queria – solidariedade ideológica à Rússia e à Áustria, neutralidade colaborante ao Império Britânico, encorajamento à expansão colonial francesa.
Os seus sucessores deram cabo desta política e a Alemanha ficou isolada e foi para a guerra isolada, em 1914.
Ao nacionalismo militar conservador de 1914, sucedeu o nacionalismo socialista e popular de Hitler, gerado na humilhação da paz punitiva de Versalhes. Com ele, a Alemanha mobilizou contra si a maior coligação da História. Em 1945, foi vencida e a Europa entrou no seu Ano Zero, já que, quer os vencidos alemães e italianos, quer os vencedores ingleses e franceses, estavam com as suas economias e sociedades destruídas, divididas e falidas. Os impérios ultramarinos iam desaparecer em consequência dos princípios da nova ordem internacional e do nacionalismo das áreas coloniais.
Não entender que estas guerras civis europeias e as consequentes derrotas e perdas tinham que ter um preço na economia e nas finanças dos países (logo, na vida das pessoas) é que surpreende. A Europa já não tem impérios, não produz energia, importa comida, deixou de ser a fábrica do mundo, não tem poder militar.
Está em decadência há muito, embora seja o lugar aprazível onde quem ganha muito dinheiro vem gastá-lo. Por que é que havia de ter um alto nível de vida?

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