Cinco Papas demitiram-se e um esteve para ser eleito em Portugal

Pedro Cordeiro com agências (www.expresso.pt)
13:33 Segunda feira, 11 de fevereiro de 2013

A decisão de Bento XVI tem raríssimos precedentes. Em 265 papas, o alemão é o sexto a abandonar o cargo em vida.
Só cinco papas abandonaram o cargo antes de Bento XVI e o último fê-lo há quase 600 anos. Outros três estiveram prestes a renunciar, mas não o fizeram.
Comecemos por estes. Quando viajou para Paris em 1804, para coroar Napoleão imperador, Pio VII (1800-1823) assinou uma declaração de renúncia para o caso de ser feito prisioneiro em França. João Paulo II, antecessor de Bento XVI, deixou uma carta escrita em 1989 para o caso de a saúde lhe falhar (falhou, mas a carta não foi utilizada por Roma). Entre os dois houve Pio XII, o Papa da II Guerra Mundial. Temendo ser raptado pelos nazis, redigiu um documento segundo o qual, caso tal sucedesse, a Cúria devia considerá-lo demitido por vontade própria. O Colégio Cardinalício devia, então, realizar o conclave para eleger o seu sucessor em Portugal, país neutro no conflito global.
Vejamos agora os Papas que, como Joseph Ratzinger, deixaram de facto o cargo de líder da Igreja Católica:
João XVIII - De seu nome Fasânio, foi Papa entre 1004 e 1009. Exerceu o cargo em Pisa, pois Roma estava assolada pela peste e ocupada por inimigos do Papa. Foi um erro ter-lhe sido atribuído o ordinal XVIII, dado que só houvera 16 papas Joões anteriormente. Aquele que ficou para a História como João XVI (997-998) era um antipapa, em tempos de cisão na Igreja. Assim, João XVII (Papa entre maio e dezembro de 1003) devia ter sido XVI e João XVIII devia ter sido XVII. Em todo o caso, ficou João XVIII, ocupou o cargo cinco anos e depois abdicou, retirando-se para um mosteiro onde morreu pouco depois. Sucedeu-lhe Sérgio IV.

Bento IX - Eleito Papa em 1032, Teofilacto de Túsculo foi o único a exercer o cargo mais de uma vez e a tê-lo vendido. Escolhido com 18 a 20 anos (há fontes que indicam 10 a 12 anos) era filho de um conde e tinha poucas outras qualificações para o pontificado. São Pedro Damião considerava-o "imoral" e a própria Enciclopédia Católica considera-o "uma desgraça para a Cátedra de Pedro". Alegadamente homossexual, organizava orgias e foi acusado de assassínios. Expulso de Roma em 1036, voltou com a ajuda do imperador Conrado II. Em 1044 voltou a ser afastado, tendo sido eleito seu sucessor Silvestre III.
No ano seguinte, porém, Bento IX regressou e venceu militarmente o seu sucessor. Passado um mês, todavia, renunciou ao cargo para se casar. Vendeu o lugar de Papa ao seu padrinho, o padre João Graciano, que escolheu o nome papal Gregório VI. Mas Bento IX, sempre instável, arrependeu-se do negócio quando o casamento foi, afinal, cancelado. Em 1046 voltou para depor Gregório VI. Ocupou o trono, enquanto aquele e Silvestre III também o exigiam. Teve de ser o rei Henrique III da Alemanha a dirimir a quezília, declarando Bento e Silvestre demitidos e obrigando Gregório a renunciar. Foi eleito Papa Clemente II, a quem Bento ainda tentou suceder após a sua morte. Acabou excomungado.
Gregório VI - João Graciano tornou-se Papa em 1045. Apesasr de ter reputação de homem de carácter, comprou o cargo ao seu afilhado, o Papa Bento IX. Tê-lo-á feito para recompor a Igreja após as desvergonhas do afilhado, mas não pacificou Roma. O cargo foi-lhe disputado por Silvestre III e pelo próprio Bento IX. Quando o rei alemão Henrique III foi chamado para resolver o conflito, Gregório VI foi acusado de ter comprado o cargo e obrigado a renunciar. Sucedeu-lhe um bispo alemão, Suidger, com o nome Clemente II. Gregório morreria na Alemanha em 1048.

Celestino V - Passados mais de 200 anos, foi a vez de Pietro Morrone abandonar o trono de São Pedro. Aceitara-o com relutância em julho de 1294. Enquanto Papa, confirmou uma ordem de um antecessor que criou a tradição de os cardeais serem trancados durante o conclave para eleger o Papa e decretou que o Papa pode renunciar ao cargo. Em dezembro, após cinco meses e oito dias de papado, exerceu esse direito, afirmando desejar "uma vida mais pura". Foi canonizado em 1313.

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