O melhor

Inês Teotónio Pereira , i-online 23 Fev 2013

Os pais querem um rapagão, valente e exímio jogador da bola. As mães um rapaz que seja meigo, inteligente, o mais bonito e um destruidor de corações

O pior que pode acontecer a uma criança é ter pais que querem o melhor para ela. O fatídico "Eu só quero o melhor para ele" é uma tragédia. A criança está tramada, antes de ser gente já carrega um fardo às costas: tudo aquilo que os pais acham que é melhor para ela. Como se os pais soubessem alguma coisa do assunto.
Mas é melhor como? A comparar com quê? Melhor para quê? Com que objectivo? O melhor é a coisa mais relativa do mundo e no que diz respeito à educação é aquilo que os pais gostavam de ter sido ou de ter tido e não conseguiram ser nem conseguiram ter: são meras aspirações pessoais frustradas.
E o pior é que a partir deste "melhor" tudo é justificável, tudo é aceitável, com o argumento blindado de que é o melhor para a pobre criança mesmo que ela não goste, mesmo que ela não queira e mesmo que ela não tenha jeito. Tudo isso são pormenores. Os pais querem o melhor para os filhos e os filhos, que não sabem o que é a vida e muito menos o que é melhor para eles, só têm mesmo de seguir o caminho das pedras iluminado pelos progenitores.
O mais requintado de tudo isto é que esse caminho é iluminado muito antes de a criança nascer. Aos pais não interessa muito como o filho vai ser, interessa sim aquilo que eles querem ele seja. O modelo está predefinido muito antes de a criança ver a luz do mundo. Os pais querem um rapagão, valente e exímio jogador da bola. As mães querem um rapaz que seja meigo, inteligente, o mais bonito e um destruidor de corações. Os pais querem que a filha seja linda, esperta, competente, engraçada, boa cozinheira, prendada, meiga e com personalidade. As mães querem o mesmo mas em doses mais moderadas, porque mesmo as filhas são concorrentes - também são mulheres - e a natureza feminina é implacável.
Antes do mais, o nosso filho tem de ter sucesso - porque sucesso é sinónimo de melhor - e para isso tem de se ser bom desportista, bonito, popular e bom aluno, do ideal renascentista, despertando assim a vaidade e o orgulho dos pais. Para que isso aconteça, para que o seu sonho de filho se transforme em realidade, os pais estão dispostos a quase tudo, porque estamos a falar do melhor para os filhos e em terra alguma é censurável querer o melhor para os filhos.
A grande chatice desta questão do melhor para os filhos é que os filhos não são consultados sobre o tema, nem directa nem indirectamente. E muitas vezes, senão a maior parte, o melhor para os pais é o pior para os filhos. Um filho ou uma filha pode não querer ter sucesso, pode não gostar de futebol, pode ser maria-rapaz, pode não ser um hino à beleza, pode detestar matemática. E nestes casos, pelo menos, o melhor está desde logo comprometido. Nestes casos, o filho intromete-se entre os pais e o melhor para ele e o caldo entorna-se: "Eu dei-lhe tudo e sempre quis o melhor para ele, e afinal…" Afinal a criança não é competitiva e não é parecida com o pai, nem com a avó, nem com tio, nem com o Brad Pitt, nem com o Messi.
O melhor para o filho é que os pais gostem deles e que os respeitem mais do que ninguém. O melhor para os filhos é que pais sejam os melhores a gostar e a respeitar

Comentários

Anónimo disse…
Concordo plenamente com este comentario da Sra Ines realmente os pais devem amar os seus filhos por eles mesmos sem querer que eles sejam os melhores porque isso nao tem nada de amor implicito tem de orgulho egocentrismo e egoismo!

Nao concordei foi com o ultimo artigo antes deste dos pais nao sabem se r pais comprendo a tom de ironia mas~não se pode cair no ponto de generalizar , !

Porque pegando nos 2 artigos ha pais que ralamente sabem amar os seus filhos com o coraçao de Deus e a esa imagem que Deus quer que eles tenham e por isso mesmo foram colocados por Deus para serem os amantes destes inocentes crianças e jovens que foram colocados neste mundo e mais que ninguem tem o dever a obrigaaço de cuidar e amae do que os pais com amor agape e nao mais ninguem ( porque infelizmente chegamos a fase da historia em que a propria sociedade ja cquer sobverter esse direito aos pais de amar e cuidar dos seus filhos como lhes compete e é vontade de Deus e ninguem os deve substituir , devem ser ajudados nas suas dificuldades mas nunca substitui-los

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