Permitir o possível

Miguel Esteves Cardoso Público, 16/03/2013 - 00:00

Em inglês, o "may I?" é o verbo correcto, significando "dá-me licença?". A decisão é de quem manda. Pergunta quem reconhece que não tem poder e precisa de autorização de quem tem. Caso fôssemos muito verdes e perguntássemos "can I leave the table?", logo éramos corrigidos que "yes, you can, but you may not". Como quem diz: "Sim, fisicamente podes levantar-te da mesa, mas não tens licença, porque eu não te dou."
Não é o poder e o dever: é o poder fazer e o deixarem-nos fazer o que queremos. O possível é uma questão física: tudo é possível. Todos os piores - e melhores - pecados são, eminentemente, possíveis, mesmo quando são universalmente indesejáveis, como o incesto.
Toda a minha vida, sem ser uma questão de gramática (embora seja), lutei pelo lado português (do meu pai) da questão, que punha o dever antes do poder e o perguntar se se pode fazer e dizer depois do dever de dizer, de poder fazer-se e dizer-se o que que se pode. Deve-se e pode-se. O querer, o poder, o desejar e o dever pertencem à mesma quadrilha musical.
A começar pela nossa vida - a vida de cada um - deveríamos distinguir, com alívio e felicidade, aquilo que nos prende ao que acreditamos: da verdade austera do que nos devolve à vida que temos e de todas as fantasias acerca das razões por que vivemos.
O poder e o dever andam escusadamente
desligados. Descubram-se as parecenças, antes que venha a ser tarde.
Entre tudo o que é possível é pouco o que é permissível.

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