A agonia da Europa

Público 08/06/2013

Os portugueses, infelizmente para eles, esperam a salvação da Europa. Alguns, um pouco mais sóbrios, percebem que a nossa crise é uma pequena parte da crise da Europa. Mas ninguém se lembra ou quer reconhecer que a Europa já chegou ao fim. Em Junho de 2014, quando a troika sair de Portugal, vai fazer 100 anos que a Europa voluntariamente se matou. Em Junho de 1914, e excluindo por método o império americano, a Inglaterra, a França, a Alemanha e o que se chamava com optimismo a Rússia eram literalmente os donos do mundo. A grande política ou, como se dizia à época, "o grande jogo" consistia numa vigilância mútua a roçar a loucura ou no exercício, certamente mais consolador e mais rendoso, de distribuir a terra em talhões em África e na Ásia. Da China a Marrocos e de Portugal a Samoa, não havia um único cantinho livre da sombra das potências.
Em Junho e Julho de 1914, a Europa decidiu resolver alguns conflitos sem importância intrínseca por meio de uma guerra geral no seu próprio continente. Essa guerra deixou sequelas que depressa (20 anos) produziram outra; e a segunda liquidou os restos do que ainda passava (e passa hoje) por "civilização ocidental". No fim, depois de 75 milhões de mortos, as coisas continuaram como estavam ou como alguns queriam que estivessem. A Inglaterra perdeu a Índia e, lentamente, o resto das colónias, a França também, a Áustria-Hungria desapareceu. Só a Rússia aguentou até 1989 a sua supremacia na Europa de Leste, na Ásia Central e numa fracção, aliás leonina, da Ásia Oriental. A Europa viveu dali em diante da protecção da América e do que ia conseguindo exportar para os seus velhos domínios.
Mas nem por isso desistimos de nos considerar o centro do mundo. Entre as queixas sobre depressão nos países do euro em 2012, não se lê uma frase sobre o facto de que a produção global cresceu 5 por cento. A China, a Índia, o Brasil, a Indonésia e a Arábia entraram finalmente na "história" e, vista de longe, a Europa é um simples saguão, onde se vive bem e que vende aos simplórios produtos de luxo. A nossa impotência e as nossas bazófias não impressionam ninguém; e ninguém lamenta este novo trambolhão do seu antigo senhor e mestre, seja ele inglês, francês, alemão ou russo. Proclamam por aí que Portugal não tem condições de competitividade, quando três quartos da Europa, que abandonaram a indústria e o comércio de longo curso, também não têm. O desastre é comum e nada nos livrará dele.

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