Dito&Feito

Sol, 10.jun.2013
José António Lima

A invejável vitalidade e a inesgotável energia de Mário Soares só têm paralelo no seu desmesurado ego político. Soares já teve o país a seus pés na viragem dos anos 80 para os 90 quando ultrapassou 70% dos votos na sua reeleição presidencial, vendo depois esse pecúlio eleitoral esvair-se para uns quase humilhantes 14,3% na requentada e imprevidente candidatura de 2006.
Agora, está reduzido à assistência de uma acanhada Aula Magna onde avultam bloquistas e alguns defensores de um serôdio frentismo de esquerda. Mas o ego de Soares continua a achar que determina a evolução do PS e condiciona a governação do país. Nem que, para tanto, sobreponha agora – ao melhor estilo do PCP e das teses de Cunhal – a legitimidade da rua e das manifestações à legitimidade do voto e das maiorias parlamentares.
Uma das especialidades desse incansável activismo de Mário Soares é a recorrente tentativa de influenciar a corrida presidencial lançando nomes e candidatos da sua lavra. Em 1995, ainda em Belém, para evitar a candidatura já no terreno de Jorge Sampaio, que fugia ao seu controlo, tentou convencer Almeida Santos, Jaime Gama e, já em desespero de causa, Manuel Alegre. Em vão. Nenhum deles quis afrontar Sampaio.
Dez anos depois, em 2005, iludido com o que pensava ser o seu peso político no país, Soares surpreendeu tudo e todos ao avançar numa candidatura contra Cavaco. Acabou com menos de um terço dos votos do ex-líder do PSD e até atrás da candidatura independente de Manuel Alegre. A seguir, em 2010, para boicotar a nova candidatura de Alegre, agora já apoiado pelo PS, Soares sondou Jaime Gama, João Cravinho, Artur Santos Silva, Vera Jardim, Vasco Vieira de Almeida, etc. Resignando-se depois a apoiar, nos bastidores, a candidatura de Fernando Nobre. Que impediu Alegre de chegar aos 20%, mas se dissolveria nas suas próprias incongruências.
No encontro da Aula Magna, percebeu-se que, depois do ensaio falhado de Carvalho da Silva, o novo Fernando Nobre de Soares se chama, agora, Sampaio da Nóvoa. Com a mesma falta de currículo político, a mesma inconsistência para propor soluções e alternativas, o mesmo discurso redondo e balofo. Isso, a Soares, é o que menos importa.
jal@sol.pt

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