O bom silêncio e o mau ruído político

Henrique Monteiro
Domingo, 14 de julho de 2013

A proposta de compromisso feita por Cavaco Silva, independentemente da celeuma que levantou, já teve um mérito: remeteu ao silêncio (ou quase) os principais partidos e travou as habituais declarações habilidosas. As agendas dos líderes tornaram-se discretas e, em vez de inflamarem plateias pelo país dizendo mal dos outros e bem de si próprios, remeteram-se a um cuidado estudo do que pode e não pode ser objeto de um acordo.
Este silêncio é bom. O país estava e está farto de demagogia e de guerras sem significado. Não se trata de acabar com as divergências, mas sim de as colocar abertamente, de forma séria e estruturada e não para agradar às claques partidárias.
No entanto, continua uma espécie de ruído de fundo, provocado não só pelo PCP e Verdes como pelo Bloco de Esquerda. Estes tudo fazem para que o PS não tenha condições de diálogo. Dizem que é uma machadada no entendimento à esquerda, como se alguma vez estivessem dispostos a entender-se com alguém que defenda que os compromissos internacionais, a que chamam "pacto de agressão" são para cumprir.
É por isso incompreensível que o PS queira alargar o diálogo ao Bloco e ao PCP. Os socialistas, em vez de fingirem que todos os partidos são iguais, deveriam assumir claramente, como o fizeram no passado, com Mário Soares (por muito que ele hoje queira o contrário), que a liberdade, o parlamentarismo, o mercado livre, os compromissos internacionais e outros aspetos básicos de uma democracia pluralista não são negociáveis. Em vez de se submeter à chantagem da esquerda deveriam confrontá-la com a realidade. São ou não a favor do parlamentarismo? São ou não a favor do mercado? São ou não a favor da NATO e da Europa? São ou não a favor de se cumprir o memorando com a troika? São ou não a favor do euro?
A situação não se compadece com este tipo de jogadas que PCP e Bloco tentam. É altura de o PS, com a mesma coragem que teve em 1975 ou em 1983, assumir que ideologicamente está muito mais perto dos sociais-democratas do PSD e dos democratas-cristãos do CDS, do que de comunistas e bloquistas que, além do mais, sempre que apanham o PS no poder dizem que eles não se distinguem da direita.

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