Briefings fatais

José António Saraiva
Sol, 2013-08-20

Depois da saída de Miguel Relvas, substituído por Marques Guedes e Poiares Maduro, o Governo teve a peregrina ideia de fazer uns briefings à americana, em que os governantes dariam informações (em on ou em off) aos jornalistas.
As coisas começaram mal.
Primeiro foram as confusões sobre o on e o off, e a hora a que os briefings deveriam realizar-se – marcada inicialmente para as 14h00, o que não fazia qualquer sentido.
Depois foi a perturbação causada pelas demissões de Vítor Gaspar e Paulo Portas, e logo a seguir a discussão sobre o 'compromisso de salvação nacional' solicitado pelo PR.
Os briefings foram então interrompidos e recomeçaram agora, em pleno Verão.
Da pior maneira: um secretário de Estado foi praticamente assassinado em directo, ficando ferido de morte.
A televisão não é para brincar, e este Governo mostrou não ter percebido ainda isso.
Logo à partida, escolheu para pivô dos briefings um jovem bem-intencionado mas com pouquíssima experiência política e nenhum calo mediático: Pedro Lomba.
Lomba parece um anjo a que só faltam as asas, e que revelou no relacionamento com os jornalistas uma tremenda ingenuidade.
Quem imaginou os briefings partiu de três premissas, todas falsas:
1. Que os jornalistas, de uma forma geral, são isentos; ora, os jornalistas, sendo geralmente de esquerda, detestam este Governo 'de direita' e farão tudo para o 'tramar';
2. Que os jornalistas iriam para os briefings de boa-fé, desejosos de conhecer os pontos de vista dos governantes; ora, a maioria dos jornalistas ia para os briefings com ideias pré-concebidas e estava-se nas tintas para as explicações do Governo;
3. Que o contacto directo com a imprensa, e através dela com o povo, esclareceria muita coisa; ora, esse contacto directo com o povo não podia verificar-se, pois os jornalistas pescavam as frases dos governantes que supostamente mais os enterravam, hipervalorizando (às vezes cruelmente) as suas fragilidades (dúvidas, hesitações, contradições, etc.).
Este último ponto foi evidente no caso do linchamento de Joaquim Pais Jorge.
Assim, o resultado dos briefings, entretanto interrompidos, foi desastroso.
Comparados com as encenações do tempo de Sócrates – que contratava agências de comunicação e tinha especialistas e bons comunicadores a cuidar desses assuntos, como Pedro Silva Pereira ou Augusto Santos Silva – estes briefings roçavam o patético.
Transmitiam a ideia de um amadorismo comovente.

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