Ricos cada vez mais ricos

Pedro Romano, 2013-11-29
Tem sido amplamente noticiado o crescimento das grandes fortunas em Portugal. A fonte é a lista anual feita pela revista Exame, que até já está a circular lá fora.
Portugal may be mired in a debt crisis, but its 25 richest people got 16 percent wealthier in 2013, with fortunes equivalent to nearly 10 percent of the country's GDP, rankings published Thursday showed.
The 25 now have a combined wealth of 16.7 billion euros, according to the data published by Exame magazine.
Como é que os multimilionários se tornam ainda mais ricos num cenário de recessão acentuada? A explicação, como se lê na notícia, está na componente financeira da riqueza: acções, obrigações e outros títulos. A bolsa engordou significativamente em 2013, o que faz com que a riqueza líquida dos multimilionários aumente na mesma proporção.
Mas a bolsa tende a seguir, ainda que de forma imperfeita, o comportamento da economia. Estando a economia em recessão, é difícil perceber como podem as empresas que integram essa mesma economia valorizar-se. A não ser, é claro, que a recuperação de 2013 represente uma melhoria face a um histórico já bastante negativo. Se é isto que está a acontecer, então o crescimento das grandes fortunas deve seguir o mesmo perfil, e os resultados impressionantes de 2013 têm como contraponto uma descida igualmente impressionante nalgum ponto do passado recente.
De facto, é precisamente isto que acontece. Em baixo aparece um gráfico com a riqueza das grandes fortunas desde 2007 até 2013, construída com os dados da mesma Exame (2007 é o ano mais recuado para o qual encontrei dados). Como termo de comparação, coloquei também os rendimentos do trabalho.

Portugal tem um problema grave de desigualdade. E este gráfico não serve, de forma alguma, para o minimizar ou relativizar. Apenas para mostrar como é fácil induzir alguém em erro pela simples ocultação da série histórica de uma variável.
P.S.- Note-se que há uma diferença entre riqueza, uma variável stock que compreende todos os activos acumulados até um determinado ponto no tempo, e remunerações como os salários, que são o rendimento gerado durante um certo período de tempo.

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