Inventar o mundo, alargar o possível

José Luís Nunes Martins
ionline 2014.08.09

Muito do que admiramos no mundo fomos nós que o colocámos lá… através desse talento maior que é o de brincar às esperanças
A imaginação é o talento responsável pela construção dos sonhos e dos pesadelos. Daquelas referências que nos motivam e atemorizam quando estamos bem acordados. É com esta capacidade de dar e tirar cores à realidade que transformamos o que somos e o que nos rodeia. Muito do que admiramos no mundo fomos nós que o colocámos lá… através desse dom maior que é o de brincar às esperanças.
Há uma camada que reveste a realidade criada pela nossa capacidade de a apreender. Como se antes de ver e ouvir precisássemos de adicionar algo que o possibilitasse.
Talvez tão importante quanto saber, é criar. É pelas imagens que guardamos em nós do mundo que o vamos conhecendo. Ficam então numa espécie de reservatório mágico que vai combinando partes diferentes de origens distintas, a fim de fazer surgir tesouros magníficos e desgraças impiedosas… É a imaginação que provoca e alimenta as paixões. As melhores e as piores.
Imaginar e pensar são processos muito semelhantes. As conclusões começam sempre por ser construídas a partir de associações entre pedaços do que fomos recolhendo. A imaginação não se opõe de forma alguma à razão. Busca saídas através de uma aproximação diferente aos problemas. É um pilar essencial do entendimento mais abstrato. Uma lógica livre de princípios ou obrigações.
Há um perigo absoluto em ser sonhador… esperar que seja a realidade a recriar-se em ordem a cumprir o que se idealizou… Não.
E há também quem não sonhe os seus próprios sonhos, copia os de outros e vive-os, mas nunca com a fé que se exige a quem quer mesmo ser feliz… a partir da sua própria vida. Somos únicos e isso torna-nos ainda mais valiosos.
O real consegue sempre surpreender-nos. Mas apenas na medida em que estivermos atentos.
Há muita gente que não consegue pensar além do que os seus sentidos alcançam. Só porque não veem algo julgam que não existe… Vivem neste mesmo mundo e não conseguem ver senão… cinzento. Tudo cinzento. Nem sequer preto e branco, cinzento, apenas e só. A sua vida é triste, pobre e… cinzenta. Como se a sua imaginação tivesse sido consumida e apenas restassem as cinzas em que ardeu.
Mas há também os que se atrevem a pintar a vida de belo, com o amor, que é essa imensa vontade de criar, de fazer brotar bondade em abundância, onde faz falta, onde faz diferença… onde não há.
Como se… a nossa inteligência respirasse e num primeiro passo inspirasse integrando em si o que a rodeia… para, depois, soprar sobre o mundo o que criou no mais fundo de si.
É à imaginação que cabe definir o mundo em que queremos viver. Esta vontade pura de descobrir o tudo que pode haver em cada coisa, esta força criadora deve ser dominada com sabedoria, pois o talento que nos leva a voar, é o mesmo que nos pode destruir pelos medos que é capaz de gerar no mais íntimo de nós. A nossa vida pode ser um verdadeiro inferno se não soubermos dominar a nossa imaginação.
Podemos sobrevoar um deserto imenso no dorso de uma baleia voadora… podemos mesmo!
Há quem julgue que os sonhos são mentiras e erros. Não são. O que resulta da imaginação pode sempre tornar-se real… o hoje era irreal ontem e… ei-lo aqui.
Para o melhor e para o pior, se não há inimagináveis, não há impossíveis!

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