O islão e nós

VASCO PULIDO VALENTE Público, 30/08/2014 - 00:59
O Ocidente é o inimigo universal das forças que dominam o mundo muçulmano, não pode arbitrar ou conciliar, tanto mais que não conhece ou não percebe as sociedades em que se acha na obrigação de intervir.
Nem os milhares de funcionários que na América tentaram convencer Bush que não era uma boa ideia invadir o Iraque, nem os conselhos de fora, nem sequer a própria evidência das coisas conseguiram impedir o desastre da invasão. Bush passou por cima de tudo e, de caminho, arrasou o equilíbrio precário que a Inglaterra e a França tinham imperialmente estabelecido na região depois da I Guerra Mundial. No fim, quando se retiraram as tropas do Ocidente, ficou o que devia ficar: uma guerra civil étnica e religiosa, que pouco a pouco alastrou a uma boa parte do mundo muçulmano, com o apoio e a colaboração das colónias de refugiados nos países mais tolerantes da Europa. Como se viu agora com a morte de James Fowley, o Londanistãorealmente existia e colaborava com os militantes no terreno.
O "Estado Islâmico" (EI) - ou ISIS ou ISIL – reúne a facção mais radical da "jihad" (a guerra santa) e, apesar de recente, já se distinguiu pela sua crueldade e primitivismo. Nada que nos deva espantar. As guerras da Reforma cristã, sem chegar à brutalidade do EI, não ficaram como modelo de "limpeza" ou de respeito pela vida humana. A fé não inspira mansidão. A violência da Europa até meados do século XVII, numa velha e venerável civilização, não deixou por isso de ser violência. Ainda há anos, a Alemanha (ou o povo alemão) considerava a "guerra dos 30 anos" como a maior catástrofe da sua história. Não é de esperar que o islão leve menos tempo e use de meios mais doces para pôr a sua casa em ordem, se algum dia conseguir essa inimaginável proeza.
Ao contrário do que Obama supõe, no meio da confusão instalada, não lhe compete defender uma etnia contra outra ou uma seita contra a seita do lado. O Ocidente é o inimigo universal das forças que dominam o mundo muçulmano, não pode arbitrar ou conciliar, tanto mais que não conhece ou não percebe as sociedades em que se acha na obrigação de intervir. O que o Ocidente pode é fazer um esforço para isolar a área e os países que se envolveram na luta pelo Califado ou pelo Iraque ou qualquer ambição de vingança e conquista. E também pode tomar as precauções necessárias para que a "jihad" não penetre no seu território ou descaradamente o use como base de recrutamento e centro de operações. A "missão" da Europa como da América acabaram. Para sempre. Basta que mostrem uma "neutralidade" pacífica e sensata e se armem para não encorajar aventuras do próximo.

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