Sobre a nova campanha de Richard Dawkins

Pe. João Vila Chã, 2014.08.22

Richard Dawkins, possivelmente o ateu mais famoso da atualidade, tem vindo a defender num seu perfil numa das redes sociais mais populares a ideia de que é imoral não abortar uma criança afeta com a síndrome de Down. Malgrado o facto de ser um biólogo de grande reputação, com notáveis contributos nesse campo científico, o seu livro mais famoso (God's Delusion) é, em meu entender, um daqueles que um dia bem poderá ser qualificado como um dos mais enganosos de todos os tempos. Certamente, um mau livro. Pessoalmente, já me habituei a não esperar muito deste intelectual inteiramente dedicado à tarefa de anular a pertinência da religião e de negar o sentido de Deus. Não é, por isso, de ficar surpreendido que um intelectual assim acabe negando os princípios mais básicos da ética, mesmo daquela a que se pode chegar independentemente de uma base religiosa. Todo o ser humano, independentemente das suas qualidades, tem direito à vida; negar um tal direito é, fundamentalmente, negar um dos princípios mais básicos da humanidade. Ao ser acossado por muitos dos seus muitos leitores, Dawkins justificou-se dizendo que a sua opinião não era outra coisa senão um reflexo de um estado de facto, que é este: as crianças diagnosticadas com a síndrome de Down são hoje em dia abortadas a um ritmo espantoso. E o meu ponto é este: de uma prática profundamente injusta, porque desumana, não se deveria fazer seguir um raciocínio ético destinado a justificar o que, por mais justificações que tenha, nunca deixará de ser uma séria violação de um princípio ético fundamental, e esse é o respeito que todo o ser humano consciente deve ter perante a vida na sua forma... humana. Discordo de Dawkins em muitas coisas. Neste caso, acho mesmo que o seu posicionamento, para além da minha discordância, que não é importante, deveria merecer séria reprovação por parte de todos os intelectuais dotados de um sentido ético minimamente aceitável. Ou será que os intelectuais de agora já esqueceram o que no caso de totalitarismos como o de Adolfo Hitler significou a promulgação de leis, ou simples práticas, baseadas no princípio da eugenia? Uma injustiça, por mais simples, ou escondida, que possa parecer, nunca deixa de ser uma violação do princípio que é o Respeito devido à Humanidade em todas, mas mesmo em todas, as suas formas.

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