A Joaninha vai para a escola

Isilda Pegado, Voz da Verdade, 2014.09.14
A Joaninha é a quarta filha do Pedro e da Sónia. As gémeas estão com 11 anos e o Alexandre com 9. Sendo a mais nova, a Joaninha "herdou" dos irmãos os livros mas também a prática e a ligeireza no tratamento das coisas que a mãe dá ao forrar dos livros ou ao arranjo do material.
A Sónia, por vezes em lamúria vai dizendo: "Dei tanta atenção ao primeiro dia de aulas dos mais velhos e agora, tudo me parece menos exigente… é da prática… ou já é o peso dos 35 anos…". Porém, a avó Ana, ouvindo esta conversa e vendo o pouco tempo que a filha tem para as inúmeras solicitações (do trabalho, dos 4 filhos, da casa, da doença das gémeas), pensou, "esta é a minha vez! de voltar a "cheirar" as borrachas ou o apara-lápis, o cheiro de novo na escola… que saudade…".
Quem não recorda o primeiro dia de aulas? Cada um terá o seu (irrepetível) com histórias, imprevistos, sensações, cheiros e sons que só o próprio recorda.
A avó Ana disse então à Joaninha (depois de ter conferenciado com a filha) "talvez seja melhor comprar uma mochila nova, deixando a que já tens para os haveres a natação". E, foi assim a oportunidade de ir às compras com a neta.
Naquela tarde, com o dinheiro bem contado, mas no meio da panóplia de canetas, lápis, cadernos, estojos, a Ana (avó) voltou aos 7 anos de idade, voltou aos 30 anos de idade (quando acompanhava os filhos) e olhava com redobrada atenção para a Joaninha que se sente uma "princesa" rodopiando à sua volta.
O avô Augusto, ao longe, por entre as prateleiras dos vinhos, repara no entusiasmo de avó e neta, e pergunta-se (também recordando o seu primeiro dia de escola) "de onde surge esta magia, este encanto?", "Talvez seja a novidade, o saber, o início da responsabilidade, os quase 20 amigos que nesse dia entram na nossa vida…alguns (amigos) ainda hoje são os melhores…".
Chegados a casa, o relato foi exaustivo por parte da avó e da neta. A avó contou e comparou os preços das coisas, e a neta relatou todos os motivos que ilustram as capas dos cadernos e os estojos condizentes. Ninguém as calava.
Ao jantar, o Pedro ouvindo o relato, do relatado, feito pelas gémeas em tom jocoso, recordava a Tatiana, sua colega de trabalho que tinha pedido para chegar mais tarde na hora do almoço pois tinha ido às compras para a escola, com o filho. "Uma canseira, muita gente, sempre as mesmas coisas, miúdos insuportáveis, e eu com pressa para vir para o trabalho…", tinha dito a Tatiana que só tem este filho a quem "dá tudo".
"O dinheiro não estica, e quem tem 4 filhos faz muita ginástica, para que quando o fim do mês chega, as contas estejam "direitinhas". Mas nem tudo se compra com dinheiro. Este ano não compramos livros para o Alexandre nem para a Joana. E os avós… são uma dádiva" – foi a resposta da Sónia.
"Não sei se damos tudo aos nossos filhos. Acho que não. Mas, o que será dar-lhes tudo?" "As gémeas estão sempre a picar o Alexandre, mas são "verdadeiras mães" da Joaninha, não a deixam pisar o risco".
"Sabes, havia um senhor cujo nome não recordo agora que dizia: - "Se queres ver o teu filho feliz, dá-lhe um irmão, mas se o queres muito feliz dá-lhe muitos irmãos".
Àquela hora os miúdos já estavam deitados porque no dia seguinte começavam as aulas. A Sónia deu um pulo da cadeira, cheio de energia, e disse "São quase dez e meia e ainda tenho a roupa para pôr na máquina, isto é bom, é muito bom, mas amanhã é dia … Ah! A Joaninha já sabe que tu não podes ir amanhã à escola mas como vai o Alexandre e as gémeas ela sente-se a menina mais feliz que vai entrar naquela escola".
Que bem dizia aquele senhor que se chamava Fernando Ribeiro e Castro… - "Se queres ver o teu filho feliz dá-lhe um irmão, mas se o queres muito feliz dá-lhe muitos irmãos".

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