Erros

VASCO PULIDO VALENTE Público 06/09/2014
É esta a semana apropriada para falar da I Guerra Mundial. Há cem anos, quase dia a dia, a Europa estava praticamente toda em guerra. Quem ler os livros feitos para a ocasião, fica impressionado, ou devia ficar, com a quantidade de erros que determinaram a eclosão e a forma que ela tomou.
Hoje, em reacção ao Tratado de Versailles, a culpa da catástrofe que destruiu o Velho Mundo, o seu poder e a sua glória foi dissolvida numa nuvem de inocência geral, talvez para propiciar a boa vontade e harmonia entre os "28". Mas, na realidade, esta tábua rasa não deve ser levada a sério. Houve claríssimas responsabilidades de alguns países, principalmente da Áustria-Hungria, da Alemanha e da Rússia, e houve responsabilidades de um pequeno grupo de indivíduos, que não sabiam ou não percebiam as consequências do que estavam a fazer.
A Alemanha imaginou sem qualquer razão que a Europa a queria "cercar" e liquidar. E para se proteger trocou uma aliança com a Rússia, que lhe garantia a segurança a leste, por uma aliança com o Império Austro-Húngaro em dissolução, que tarde ou cedo a iria envolver nas suas querelas domésticas. A Rússia, ainda convalescente da derrota que sofrera com o Japão (1905), começou a reforçar a sua frente ocidental (com dinheiro francês) e prometeu a sua solidariedade à Sérvia, que no Sul era a cabeça do nacionalismo eslavo. O papel de chefe do nacionalismo eslavo convinha ao Czar e ameaçava a Europa inteira. A Áustria-Hungria queria destruir e assimilar e, quando o herdeiro do trono, Franz Ferdinand, morreu assassinado em Sarajevo, pediu à Alemanha um apoio incondicional – o célebre "cheque" em branco – para resolver o assunto à sua maneira. O Kaiser Guilherme II, apoiado pelo Exército, cedeu, ou acompanhou, a insanidade do Império.
Os militares também não se distinguiram pela lucidez. Tinham um plano, o plano Schlieffen, do nome de um general que entretanto morrera e fora substituído por Moltke. O plano no seu estado originário era inexequível pelo Exército alemão. Moltke acabou por o enfraquecer em pontos decisivos, transferindo tropas do eixo essencial do ataque (a ala direita ou ocidental) para a ala esquerda (contra um possível ataque dos franceses) e para a Prússia Oriental contra os russos. O comando alemão julgava que entraria em Paris em seis semanas. Não entrou e perdeu a batalha do Marne, o que o obrigou a retirar para uma linha de trincheiras muito a norte, de onde não se mexeu até 1918. Moltke, logo em 1914, foi para casa com uma crise de nervos. Outros preferiram a matança.

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