É grave mas não surpreendente

    
Tal como todos os portugueses, acordei hoje com a surpresa da "prisão de Sócrates". No entanto, se pensarmos bem no percurso do antigo Primeiro Ministro, não é uma verdadeira surpresa.

Tal como todos os portugueses, acordei hoje com a surpresa da "prisão de Sócrates". No entanto, se pensarmos bem no percurso do antigo Primeiro Ministro, não é uma verdadeira surpresa. Foram demasiados casos e suspeitas, desde o Freeport e a licenciatura até à Face Oculta. Foi a apressada destruição das escutas das conversas com Armando Vara. Foi a reportagem da revista Sábado no Verão, com um "desmentido" oficial que mais pareceu uma confirmação das notícias. E, para terminar, foram as insinuações de António José Seguro durante a campanha eleitoral para a liderança do PS. Só não percebeu quem não quis. Aliás, estou convencido que mais dirigentes do PS (e de outros partidos) suspeitavam de casos envolvendo Sócrates. Preferiam no entanto acreditar que ele teria feito bem as coisas e que a verdade nunca seria descoberta. Seria mais uma mentira conveniente.
Quantas mentiras convenientes serão necessárias para destruir um regime democrático? Talvez tenha surpreendido a coragem da justiça, num país habituado à impunidade dos poderosos. Mas também aqui as coisas estão a mudar, como se viu nos últimos meses. Julgo que haveria, além disso, uma grande frustração, e talvez raiva, nos meios judiciais e policiais em relação aos casos de Sócrates. Foi evidente o modo como o governo de Sócrates condicionou e impediu as investigações sobre o então PM. Nunca algum governo terá controlado tanto a justiça.
Um dia, paga-se a factura. Sei que todos hoje dizem que até prova em contrário Sócrates é inocente. Formalmente, é verdade. Mas para mim Sócrates é culpado de muita coisa e de coisas muito graves. Foi o PM que levou o nosso país à bancarrota, o que provocou a miséria entre milhões de portugueses. E nunca ouviu todos aqueles que o avisaram. Alguns dos seus ministros, como Luís Amado e Teixeira dos Santos, disseram várias vezes que a governação teria que mudar. De nada serviu, a não ser a hostilidade aberta de Sócrates. Os colegas do PM no Conselho Europeu alertaram repetidamente para o desastre para onde caminhava o país. Sócrates ignorou e mentiu.
Além da falência, o governo de Sócrates levou a cabo uma estratégia de controlo do país, nunca vista desde o 25 de Abril. Uma estratégia que consistia em controlar o poder financeiro e os meios de comunicação. Tomou o controlo do BCP e só não fez o mesmo na TVI porque não conseguiu. Nunca o pluralismo e a liberdade na democracia portuguesa foram tão ameaçados como nos anos de Sócrates. Pior do que ser ou não uma pessoa corrupta, Sócrates corrompeu a democracia portuguesa. O modo como exerceu o poder ficará como uma ferida moral na história da democracia portuguesa. E isso é muito grave. Para mim, Sócrates é culpado antes de o ser.
Sócrates tornou-se agora o maior dos problemas para António Costa e um teste decisivo para a sua liderança e o seu futuro político. A sua reação inicial foi positiva e deve ser elogiada. António Costa tem a oportunidade de libertar o PS da herança de Sócrates. Se o fizer, prestará um grande serviço ao seu partido e, acima de tudo, à democracia em Portugal.

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