O DISPARATE NÃO É UM DIREITO

José Luís Nunes Martins
Facebook, 2015.03.14

Quando decidimos fazer um disparate, há um argumento tão forte quanto errado que utilizamos para justificar o mal que estamos prestes a realizar: temos o direito de o fazer!
É com base nessa noção distorcida de justiça que, tantas vezes, nos colocamos acima dos outros e da moralidade que defendemos para todos – os outros. Julgamos que somos mais do que os demais ou que, pelo menos, somos a exceção à regra.
Por vezes, sentimo-nos cansados e injustiçados; outras, julgamos que, se escolhermos um mal menor em vez de um maior, estaremos a escolher bem… mas, claro, não é por não ser a pior das opções que deixa de ser uma má escolha.
Depois do primeiro disparate feito, muitas pessoas, ao aperceberem-se do erro, repetem-no. Por forma a tentar diluí-lo ou esquecê-lo… até que ao fim de uma série de absurdos… se apercebem que o mais fácil, e melhor, teria sido evitar a vontade de cair a primeira vez.
Será importante que consigamos entender bem a inteligência das tentações, a forma como se apresentam a fim de conseguirem o mais medíocre que há em nós… não, não pretendem de nós o mal supremo… só a mediocridade mais vulgar e rasteira, a insignificância… que sejamos apenas mais um nada.
A tentação do poder leva-nos a considerar que devemos fazer tudo quanto podemos… a fim de alargarmos a nossa liberdade. Ora, na verdade, os nossos valores e princípios apontam para uma linha que não deve ser cruzada. Mais, que seremos tanto mais livres quanto mais fortes formos no cumprimento do que é certo. 
O fim último de todos os egoísmos é a solidão absoluta. 
Se me julgo mais do que os outros, ainda fico mais sozinho.
Todos cometemos erros, mas ninguém tem o direito de justificar as suas faltas com as alheias… não há faltas justas.
Em tempos de fragilidade, tranquiliza-nos a ideia de que, no meio de tanto mal, podemos fazer uma ou outra coisa que, não sendo certa nem muito má, pelo menos nos aliviará um pouco a pressão… e nos dará a paz que tanto queremos…
Mas não temos nunca o direito de fazer mal a ninguém… nem mesmo a nós próprios.
Por mais profundo e imenso que seja o nosso sofrimento, por mais confusa e estranha que seja a nossa situação na vida, não temos o direito de escolher o mal. Sim, temos esse poder… mas o nosso dever é outro: sermos cada vez melhores. Sempre. A cada dia. Em cada decisão… sem exceção.
Não sou mais do que ninguém, nem, por isso, estou acima da moralidade pela qual avalio os outros. Se uma ação é um disparate, então é-o sempre, mesmo quando sou eu o autor.

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