Recordando Churchill e o 25 de Abril, na Madeira

Público | JOÃO CARLOS ESPADA 27/04/2015 - 03:57

Foi a firme oposição ao nazismo e ao comunismo que valeu a Churchill uma década de isolamento político, entre 1929 e 1939.
Foi uma celebração original do 25 de Abril, na Madeira: uma conferência sobre Winston Churchill, assinalando o cinquentenário de sua morte, a 24 de Janeiro de 1965, bem como a visita que fez à Madeira, em Janeiro de 1950.
A iniciativa partiu do presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, Pedro Coelho, e teve lugar no Museu da Imprensa. Contou com o apoio, bem como a presença e intervenção, do recém-eleito presidente do governo regional, Miguel Albuquerque. E teve ainda o apoio da Universidade da Madeira e da Universidade Católica, bem como o patrocínio do histórico hotel Reid’s, onde Churchill e Clementine ficaram alojados em 1950.
A visita de Churchill ficou imortalizada pelas célebres fotos de Raul Perestelo, quando Churchill pintava em Câmara de Lobos, no então Miradouro do Espírito Santo, hoje Miradouro Winston Churchill.
Celia Sandys, a neta do velho estadista, dedica à visita um capítulo inteiro no divertido livro Chasing Churchill: The Travels of Winston Churchill by his Granddaughter (Harper Collins, 2003). Ela deslocou-se propositadamente à Madeira, em 1999 (ficando também alojada no Reid’s) para reconstituir a visita do avô, em 1950.
A ideia da visita, recorda Celia Sandys, surgira em Agosto de 1949. A família Blandys, então proprietária do Reid’s, planeava reabrir o clássico hotel, após nove anos de encerramento, devido à guerra. E queria tornar a reabertura conhecida internacionalmente.
O convite a Churchill foi feito através de Bryce Nairn, cônsul britânico na Madeira, que Churchill tinha conhecido em Marraquexe — onde adorava pintar.
O casal Churchill chegou de barco, no Durban Castle, no fim do dia de 1 de Janeiro de 1950. Toda a ilha estava iluminada e um gigantesco V (de vitória, o gesto que Churchill imortalizara) era visível do mar, a longa distância. Milhares de pessoas aguardavam em silêncio o desembarque do visitante, até que alguém gritou: “Viva Mr. Churchill!” E toda gente desatou a gritar o mesmo.
Parece que o tempo não esteve grande coisa durante a estadia do casal Churchill e que eles tiveram de passar os dias sobretudo no Reid’s — o que, hoje como nessa época, não é seguramente aborrecido. O hotel mantém uma especial atmosfera aristocrática, hoje difícil de encontrar na hotelaria moderna.
Churchill terá ficado encantado e chegou a tentar persuadir um dos empregados — o senhor Joseph — a passar a trabalhar para ele. Mas um dos empregados de Churchill avisou Joseph: “Não se meta nisso. Ele tem uns horários impossíveis. Trabalhamos das 6h da manhã até depois da meia-noite e eu já mal me aguento em pé.” E Joseph decidiu continuar no Reid’s, vindo a tornar-se o seu famoso “hall porter”.
A visita do casal Churchill estava inicialmente prevista para durar várias semanas. Mas Winston teve de antecipar o regresso para 12 de Janeiro, porque o então primeiro-ministro trabalhista, Clement Attlee, anunciou eleições para 23 de Fevereiro. Churchill era nessa época o líder da oposição conservadora — tendo perdido as eleições em 1945, depois de ganhar a guerra.
Às 6h da manhã de dia 12 de Janeiro, Churchill embarcou no hidroavião Sunderland — acompanhado de várias garrafas de champagne e caixas de charutos. Como observou Miguel Albuquerque, esse era outro dos traços politicamente incorrectos do velho estadista: bebia e fumava descontraidamente, ao contrário de Hitler, que não fumava, não bebia e não comia carne.
Mas o traço mais politicamente incorrecto de Churchill foi sem dúvida a sua firme oposição ao nazismo e ao comunismo, desde o início de ambos e sem ambiguidades. Foi essa firme oposição que lhe valeu uma década de isolamento político, entre 1929 e 1939, quando condenou os esforços apaziguadores do Governo do seu próprio Partido Conservador, bem como os discursos pacifistas do Partido Trabalhista.
Em 1946, em Fulton, no Missouri, na presença do Presidente Truman, foi o primeiro a denunciar a “Cortina de Ferro” que o imperialismo soviético fizera descer sobre a Europa central e oriental, após a derrota do nazismo. Esse discurso gerou de novo a condenação indignada do politicamente correcto: mais de uma centena de deputados trabalhistas assinou uma petição acusando-o de belicismo reaccionário e anticomunismo primário.
A homenagem que Miguel Albuquerque e Pedro Coelho decidiram prestar a Churchill, na Madeira, foi a primeira grande iniciativa pública ocorrida em Portugal para assinalar os 50 anos da morte do grande estadista. Foi também uma oportuna celebração dos 41 anos do 25 de Abril e dos 40 anos das nossas primeiras eleições livres. A International Churchill Society of Portugal associou-se à iniciativa e vai seguramente apoiar o reforço da memória de Churchill na Madeira.

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