Religião ou Moral?

Madalena Fontoura, FMU, 2015.04.29

São grupos de miúdos muito variados. Mas todos decididos a ter aquela disciplina. Podiam não ter. Não só é opcional como, frequentemente, os horários são bastante dissuasores. Ultimamente, ouvi vários testemunhos de iniciativas nascidas destas aulas únicas: experiências de voluntariado e até uma viagem a Roma. Que disciplina é esta tão contracorrente? Chama-se Educação Moral e Religiosa Católica. E é neste nome que reside um equívoco, que se estende para lá do âmbito da própria disciplina.
Demos um passo atrás. A busca de um significado, a intuição da existência de Alguém que esteja na origem e no destino do trajeto humano é a atividade mais difundida na História dos homens, de todos os tempos e de todos os lugares. Reconhecê-lo não é, em si, uma posição religiosa ou de fé, mas apenas uma questão de justiça com a realidade.
Por isso, a dimensão religiosa faz parte de uma educação integral. Os sistemas educativos dos vários países abordam a questão de várias maneiras. Alguns daqueles que temos como mais desenvolvidos dedicam-lhe uma disciplina obrigatória no ensino básico. E como há-de chamar-se uma disciplina que trata desta dimensão religiosa do homem? Religião, Experiência Religiosa, Busca Religiosa, Sentido Religioso…
Em Portugal, o nome da disciplina conheceu esta distorção subtil, em várias etapas: primeiro a disciplina, que dantes se chamava simplesmente Religião, passou a chamar-se Religião e Moral. Como se a educação moral fosse o passaporte de entrada da Religião nas escolas públicas, onde o laicismo se foi instalando de forma crescente. A seguir passou a chamar-se Educação Moral e Religiosa, passando a Religião para segundo plano. E como é que esta disciplina é conhecida coloquialmente? Moral: a aula de Moral, o “setor” de Moral, etc…
Podia ser só uma questão de nome e não ter um peso de identidade assim tão grande. Mas não é o caso. Este nome foi empurrando a disciplina para o único âmbito que lhe é permitido: tentar que os alunos sejam boas pessoas. E nem sequer a moral católica pode ser proposta com clareza e desassombro. Os programas são prudentes nesse campo, que pode ser tão controverso, e os Professores tendem a não arriscar demais, para não ferir susceptibilidades nem perder alunos.
Ainda assim, a escola laica tem uma dívida de gratidão para com estes Professores que cumprem a tarefa que lhes é distribuída, com boa vontade e sucesso, criando nas aulas pequenas comunidades de convivência fraterna e convite à bondade e ao acolhimento. Os Professores, sobretudo os mais vivos, conseguem ainda, além disso, testemunhar a alegria da sua fé, deixando, assim, uma semente, que pode vir a germinar.
Mas vale a pena relembrar que a educação religiosa tem um valor em si mesma: o de alargar o conhecimento, perceber que há mais na vida do que aquilo que se vê e se toca, não deixar anestesiar a busca do significado, libertar as pessoas da tirania do imediato e da tentação do superficial. Além disso, a religião católica tem um tesouro a dar aos que a encontram: Cristo.
A todos os Professores, que dão a vida para testemunhar a sua amizade com Jesus através das suas aulas, lanço o apelo a que não se deixem tratar por “setores de Moral”, trazendo, assim, mais luz e verdade ao entendimento que o mundo tem da sua incomparável missão.

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