SÓ OS GRANDES SE HUMILHAM

José Luís Nunes Martins
Facebook, 2015.06.13

Querida amiga,
Ao contrário do que se costuma pensar, a humildade exige que a pessoa se humilhe. Uma pessoa humilde reconhece a sua pequenez e insignificância, tem os pés bem assentes no chão e sabe que, por muito que possamos voar, somos terra… e à terra havemos sempre de voltar. 
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A humilhação de nós mesmos é a expressão externa da humildade. Assim como a humilhação de outros é a manifestação exterior da mais profunda arrogância, um orgulho que não é mais do que podridão, sede de elogio, fraqueza que tem vergonha de si mesma e procura, a todo o custo, elevar-se pisando os outros. Como se humilhando os que estão à sua volta alguém pudesse fazer-se maior. Quase nunca se dão conta disso, mas aqueles que humilham os outros são, talvez, as principais vítimas da sua maldade...
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Devemos ser humildes. Segundo creio, a humildade não é uma virtude, mas tão-só a verdade. Não somos senão pouca coisa. É bom conhecermos os nossos limites, porque isso implica também que tomemos consciência das nossas potencialidades. 
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Quando somos orgulhosos temos uma visão deformada e desajustada da realidade. Julgamos ser mais do que somos e não nos damos conta do valor dos outros que, por piores que sejam ou menores que pareçam ser, serão para nós sempre algum bem…
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Quando não somos humildes julgamos que não precisamos de ninguém. Imagine que uma estátua é vista por quatro pessoas diferentes ao mesmo tempo. Poderá algumas delas dizer que tem a única perspetiva boa, a mais perfeita? Qual é o lado da realidade mais verdadeiro? Faz sentido partilhar o que somos, dialogar e assim enriquecermo-nos uns aos outros. Creio que até o próprio escultor, se escutar o que lhe dizem os que admiram a sua obra, poderá aprender mais sobre a riqueza do que criou…
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A humildade é uma forma de relação com o outro, colocando-o acima de nós. Mas não julgue que isso torna quem se humilha mais vulnerável. Pelo contrário. Uma bigorna torna-se mais dura a cada batida… E é sempre melhor descer dos altares da arrogância, de onde muitos tentam derrubar-nos, para o chão onde estamos mais firmes, em bom equilíbrio e com espaço. Só a pequenez permite a verdadeira grandeza. O orgulho é invejoso, a humildade generosa. O orgulhoso divide, o humilde partilha. 
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Cuidado, porém: as falsas liberdades criam verdadeiras prisões. A missão de servir o outro, parece uma perda mas é, na verdade, uma libertação.
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Se reparar bem, as pessoas mais nobres têm quase sempre maneiras simples, sendo que boa parte da multidão tem ideia de que as maneiras simples são sinal de pouco valor. 
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A humilhação dos que se colocam ao serviço dos pobres e oprimidos é, sem dúvida, um gesto divino. Há quem, por amor, seja capaz de trocar a fralda ou dar banho a um acamado ou, mais simples, de escutar com atenção alguém que precisa de ter com quem partilhar as suas dores. Isto é tão raro quanto sublime. O bem precisa de mim, de passar através de mim, para chegar ao outro, assim eu saiba anular-me e ser instrumento desse algo maior do que eu.
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Claro que será sempre mais fácil chorar com que chora do que partilhar a alegria de quem está contente...
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Humilharmo-nos é um trabalho duro e exige muita persistência. Não nos obriga a fazer muitas coisas, mas que orientemos tudo quanto decidimos em vista de um mesmo fim. Importa que, apesar de a passo lento, e com muitas paragens, nunca caia na tentação de voltar para trás. Seria a descer, sim. Mas em pouco tempo encontrar-se-ia num buraco bem mais fundo do que o sítio de onde começou… Também importa que não se satisfaça com os primeiros bons resultados; podemos sempre ser um pouco melhores. Sempre. 
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Permita-me um conselho final: não tema ser humilde. Humilhe-se. Mesmo quando doer. E quando se sentir pobre e oprimida, recorde-se que não está só. Nunca. Onde há humildade, habita o amor. O amor faz-nos escravos, mas só nele chegaremos ao melhor de nós. Tudo o mais pode ser muito valioso, mas apenas nas aparências.
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Somos pó... mas um pó divino. 
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Rezo por si e confio em si. 
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Agradeço-lhe, muito, por me julgar digno do seu tempo,
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Obrigado,

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