Uma Europa preocupada – uma Europa necessitada

P. DUARTE DA CUNHA
Voz da Verdade, 2015.07.12

A preocupação pelos outros não tem só que ver com a ajuda que podemos dar num caso concreto. Dizemos que estamos preocupados com o outro quando o que lhe acontece, de facto, nos toca. Há uma evidente relação entre estar preocupado e amar o outro.
Não precisamos sequer de chegar aos momentos limites, quando o outro está numa grande crise, ou está a passar por grandes dificuldades. Estamos preocupados, quando o outro nos “ocupa” o coração. Antes dos problemas, por causa dos laços de amizade, o outro preocupa-nos.
Não sendo esta preocupação, como não o é o amor, um exclusivo dos cristãos, há qualquer coisa que o facto de ser cristão faz diferença. Amar os que nos amam, diz Jesus, é possível até aos pagãos. Mas se queremos ter os mesmos sentimentos que havia em Jesus somos chamados a estar preocupados com todos, com o mundo inteiro, até com os que não nos querem bem. E não só preocupados com aquilo que possa acontecer no imediato, ou com as consequências negativas que os problemas dos outros possam ter na nossa vida, mas preocupados com a verdade, com o bem, com a justiça. O cristão está preocupado com o bem completo dos outros – de cada pessoa –, com a salvação e com a vida eterna. Por isso, não estamos só preocupados em que os outros se sintam bem, mas empenhados em que os outros estejam bem, estejam seguros, estejam em paz consigo, com os outros e com Deus.
Vem isto a propósito do que se passa na Europa e da necessidade de não ficarmos indiferentes.
  1. O que acontece na Grécia: a gravíssima crise financeira, o perigo de instabilidade política que impeça o desenvolvimento do país, o perigo de contágio e de uma crise em toda a União Europeia, são perigos reais. Mas não esqueçamos as pessoas concretas e que é por causa delas que faz sentido falar em finanças, em economia, em política, em dívidas e em compromissos.
  2. Na Ucrânia há uma guerra que não parou. Continuam os tiros que matam e metem medo, e há mais de um milhão e meio de pessoas que tiveram de fugir das suas casas. Estar preocupado com o que se passa no Leste Europeu deve levar-nos a querer a todo o custo a paz. Para já queremos que se leve a sério o fim dos disparos, mas depois também queremos que haja uma reconciliação com soluções justas e duradouras e que não redunde numa simples vitória de uns contra outras, à espera da vingança. São pessoas que estão a sofrer a guerra. Não é um jogo!
  3. Não é possível esquecer o drama dos refugiados que chegam à Europa vindos da Síria e do Iraque, ou dos países africanos em guerra ou com uma terrível crise económica marcada por uma corrupção generalizada. Não há dúvida que não podemos deixar sem ajuda quem nos bate à porta de casa. Quem nos governa deve, por isso, procurar soluções capazes de garantir a segurança e a estabilidade dos nossos países, mas, mesmo correndo riscos, não podem deixar de acolher e de ajudar os que chegam em situações miseráveis. E, contudo, esta preocupação deve estar a par com a preocupação por aquilo que leva tantos a fugir dos seus países. Uma Europa preocupada com quem se mete nos barcos para chegar à Europa deveria ser uma Europa empenhada em promover a justiça, ajudar na construção da paz, combater o tráfico humano, apoiar a promoção de tudo o que é bom nos países de origem.
  4. A Europa não pode ser de ajuda a ninguém – nem à Grécia, nem aos países em guerra, nem aos refugiados – se não estiver alicerçada em algo de consistente. Nunca percebi como se pode achar que somos capazes de ajudar os outros se só estamos a pensar em nós ou no nosso bem estar. Que civilização pode nascer de uma cultura egoísta e individualista? A Europa, por isso, precisa de levar a sério as suas doenças. Quando o aborto e a eutanásia não só se vão tornando normais, como há quem os queira ver como direitos; quando o casamento e a família, que constitui a base da sociedade, não só não é protegida como é redefinida e atacada em prol dos direitos individuais; quando educamos só a pensar na eficácia desprezando os valores; e, sobretudo, quando tentamos negar Deus para viver como se Deus não existisse, esquecendo não só que Ele nos criou e que sem Ele a vida não faz sentido, como também fingindo que somos capazes de vencer o mal sem a ajuda da Sua misericórdia, quando tudo isso acontece, como é que alguém pode estar preocupado com os outros?
É preciso, por isso, Jesus Cristo. Precisamos de estar preocupados com o que verdadeiramente faz falta e que depois pode mesmo salvar. E só Deus pode salvar. Com Deus virá força e inteligência para perceber bem os problemas e descobrir soluções. Sem Deus a Europa esfrangalha-se!

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