A banca ou a vida

LUCIANO AMARAL CM 28.12.2015

Não basta atirar as culpas para o "governo da direita". É preciso explicar tudo muito bem. 

A primeira coisa a perceber sobre o BANIF é que o banco não foi comprado pelo Santander. Foi oferecido. Melhor, o Estado pagou para que o Santander ficasse com o BANIF. É o que significa o facto de o Santander ter dado 150 milhões de euros enquanto o Estado e o Fundo de Resolução da banca lá colocaram 2,3 mil milhões. Isto para além de um conjunto de garantias várias (mais o risco de não se venderem os activos que ficaram no veículo "tóxico"). Ora, para esta operação catastrófica não basta atirar as culpas para o "governo da direita". É preciso explicar tudo muito bem. Com certeza que o governo PSD-CDS tem responsabilidades, desde a decisão de ficar com cerca de 60% do capital do BANIF até à manutenção em funcionamento durante três anos daquele autêntico vegetal bancário. Mas é preciso que se explique porque é que uma "venda" feita como se não houvesse amanhã foi a solução que melhor defendeu o "interesse nacional". Desde logo, é preciso que se explique porque, na sequência da notícia da TVI, se especializou o primeiro-ministro em fazer declarações cujo único efeito foi desvalorizar ainda mais o banco. Depois, é preciso que se explique porque não foram escolhidas outras alternativas. O Governo diz que preferia a nacionalização mas que a Comissão Europeia "não queria". Não queria? Pois que não quisesse. Se a solução era melhor, o Governo que batalhasse, em vez de enterrar alegremente dinheiro público. O pior que podia acontecer era adiar o processo e ter de aplicar o novo tipo de resolução em 2016. O que nos leva, precisamente, às outras alternativas: aplicar uma resolução do estilo da do BES ou então esperar pelas tais novas regras de resolução de 2016. Em que é que poupar os depositantes de mais de 100 mil euros é melhor do que impor um valor obsceno (que pode chegar a 4 mil milhões de euros, tanto como no BES para um banco com um quarto do valor) a todos os portugueses? Isto é o que aconteceu. Mas mais importante é prever o que está para acontecer. Já vimos que o estado da banca portuguesa é de calamidade pública. O que ela precisa é de uma "reforma estrutural" (esta sim, verdadeira), talvez com apoio europeu. Mais vale gastar uma fortuna nisso do que gastá-la deixando tudo continuar a apodrecer.

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