De quem é a culpa do terror

Henrique Monteiro, Expresso, 2016.03.25

Tornou-se, mais ou menos, um dever arranjar culpados, entre nós, para os ataques terroristas. À frente na lista, e com destaque, temos George W. Bush, acompanhado de Blair, Aznar e o caseiro Durão Barroso.
Não fora a guerra no Iraque — dizem-nos — e estes tipos do Daesh não existiam, ou não tinham expressão. É claro que o facto de a guerra ter sido decidida na sequência do 11 de setembro de 2001, quando a Al-Qaeda derrubou as Torres Gémeas em Nova Iorque, provocando uma matança de inocentes, nada significa para esta tese. Mas admitamos que sim, que há uma relação direta entre isso e o terror. E mais, entre a ação da Europa na Líbia e o terror; entre a nossa ação nas primaveras árabes e o terror. Algumas consciências europeias adoram autofustigar-se, e temos de fazer-lhes a vontade.
Claro que esta tese também não explica o terror do Boko Haram na Nigéria ou a matança jiadista na Costa do Marfim, bem como os atentados de Bali e muitos outros. Mas tudo o que atrapalhe a teoria é colocado de lado. O interesse de se culpar Bush (independentemente da culpa que ele tenha) é o centro da questão. Se, por acaso, isso for tão credível como culpar Charles Martel por ter derrotado o califado em 732, em Poitiers, obrigando os muçulmanos a recuarem para a Península, de onde foram expulsos, em 1492, pelos reis católicos de Castela e Aragão (outra hipótese de culpados), também não tem importância. A culpa é nossa! Mais do que nossa; do nosso sistema capitalista; da direita e do seu expoente Bush (Merkel salva-se porque foi contra a guerra do Iraque). Pois se um deputado do PCP já postulou que o terrorismo é resultado da ação dos “nossos governos” e que para acabar com o terror é necessário “acabar com a política de direita”, já se vê onde está o busílis...
Hoje celebra-se o dia em que Jesus foi condenado e morto. O povo exigiu que fosse ele em vez de um ladrão. Pilatos, governador romano, ‘lavou as mãos’ do sangue que o povo exigiu ao pedir a crucificação daquele que se dizia filho do Homem, filho de Deus.
Não interessa a crença que cada um tem, ou não, na religião que este ato e a posterior ressurreição originou. Interessa a parábola.
A irracionalidade das turbas é coisa muito antiga. Ladrões e assassinos, como Barrabás, os que escolhem o mal, são obviamente condenáveis. Mas acaba sempre por ser o nosso preconceito a pretender definir os culpados.

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