O que é a eutanásia

JN 06.03.2016
JOSÉ MANUEL DIOGO

Há assuntos sobre os quais devíamos estar calados. Sobretudo se não fazemos ideia do que estamos a falar. O recente debate sobre a eutanásia é um exemplo disso. Todos falam e ninguém sabe o que diz.
O debate sobre a eutanásia é obrigatório. Não porque o que está em questão seja uma disputa entre a liberdade individual e o direito à vida, mas porque, pura e simplesmente, ninguém sabe do que está a falar.
Nem médicos - é lamentável a entrevista do médico Pereira Coelho à RTP. Nem enfermeiros - a bastonária dos Enfermeiros ainda não percebeu que já não é uma líder estudantil e diz o que lhe ocorre com toda a gente a ouvir, precisa de treino mediático. Nem jornalistas - há enormidades, ditas e escritas, muitas delas visando apenas aumentar audiências à custa de qualquer assunto fraturante.
Ultimamente vivemos um tempo em que os assuntos, por serem hipermediatizados, independentemente da sua natureza, ganham logo uma espécie de urgência em serem resolvidos para o sim ou para o não, o mais depressa possível. Como se o meio-termo não fosse uma opção. E às vezes até parece que isto acontece porque um grupo da sociedade está interessado em resolver essas questões porque os atingem particularmente. Como dizia Estaline, se é certo que a morte de uma pessoa é uma tragédia, a de milhões é apenas estatística. Com todo o respeito, os dramas pessoais nunca foram, nem podem ser, bons catalisadores sociais.
Mas vamos aos factos. O doutor Pereira Coelho confundiu eutanásia com ortotanásia. Quando diz que ajudou a morrer o próprio pai quando este entrou em coma, o que ele fez não foi eutanásia, mas sim ortotanásia. Isto é, permitiu que a natureza seguisse o seu caminho deixando o seu pai morrer de forma natural e com tranquilidade. Não utilizou a tecnologia para o forçar a continuar vivo, o que seria distanásia, que é manter a vida sem esperança. Eutanásia é outra coisa.
Eutanásia é intervir ativamente para tirar a vida, o que é muito diferente de permitir que a morte chegue com naturalidade. Uma coisa é ajudar a morrer, outra é matar.
Um médico que conheci recentemente, que trabalha com os mais idosos e doentes, disse-me, sorrindo, que o que mais fazia era "mentir". Não aprofundámos o tema, mas pensei: dar esperança a quem tem pouco tempo de vida é muito diferente de tirar a vida a quem tem já pouca esperança.

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