Vacina de escola pública

José Diogo Quintela | Correio da manhã | 07.05.2016

A esquerda renegar subvenções estatais é como o Drácula anunciar que agora é vegan. 

As escolas com contrato de associação têm dois problemas: o primeiro é que não vendem nada; o segundo é que não estão localizadas no centro de Lisboa. Se, em vez de escolas espalhadas pelo país, fossem lojas na Baixa, podiam ser consideradas históricas e serem mais facilmente subsidiadas. Tiveram azar. Azar por isso e por esta ser a altura que a esquerda escolheu para renegar subvenções estatais. Bizarro. É como o Drácula anunciar que agora é vegan. Mas o Governo tem razão. Se há duas escolas onde basta uma, não se devem duplicar custos. Só se justifica em casos muito específicos, em que a escola particular seja uma escola do tipo Lacerda Machado, que presta serviços de borla ao Estado. Haver duas escolas no mesmo sítio, uma pública, outra privada, cria desigualdades. Obviamente, os alunos da pública são beneficiados. É que, numa privada, os jovens são protegidos do contacto com o funcionalismo público português. Quando chegam à vida adulta não têm experiência em lidar com o Estado e angustiam-se assim que se deparam com uma resma de formulários. As escolas privadas dizem que se guiam pelo mesmo currículo, definido pelo Ministério. Mas o que interessa ensinar a mesma matéria se quem o faz é um professor que não falta nem faz greves? É estar a retirar às crianças hipóteses de adquirir competências para um futuro de sujeição ao Estado. Sei do que falo. Até ao 8º ano frequentei o ambiente resguardado de um colégio de padres. No 9º ano fui para um liceu. Foi como mudar da água para o vinho. (Metafórica e literalmente, porque no liceu havia colegas que bebiam vinho nas aulas, sob a vigilância relaxada dos professores.) No liceu aprendi a desenvencilhar-me. Aprendi a ocupar o tempo quando um professor faltava e não havia substituto, habituei-me aos horários da secretaria, que abria das 15 às 15.10, tornei-me subserviente com pessoal administrativo. Depois da universidade, com 8 anos de ensino público, estava mais do que habilitado a entrar numa repartição e principiar uma relação com o Estado, pautada pelo atraso, pela burocracia, pela cunha, pela arbitrariedade e pela falta de previsibilidade. Já os meus amigos que só andaram no ensino privado, ainda hoje vomitam antes de entrar numa Loja do Cidadão. Para assustar os filhos não contam histórias do Papão, contam histórias de idas à Segurança Social. O ideal é acabar com todo o ensino particular. Quanto mais depressa uma criança entrar em contacto com a bandalheira do Estado, melhor. É o mesmo princípio da vacinação: ligeira exposição ao bicho numa tenra idade obriga o corpo a construir defesas. Uma inoculação de estatismo aguado, na altura certa, imuniza para a vida. Passados 30 anos, uma pessoa ainda conseguirá estar na mesma sala com um Mário Nogueira sem desmaiar. Para lá do Marão vai haver tensão José Sócrates foi convidado para a inauguração do túnel do Marão. Será a primeira vez que se encontra com António Costa desde que o PM o foi visitar ao presídio de Évora. E, no fundo, neste encontro mantém-se a imagética prisional: um túnel é por onde se foge da cadeia. António Costa não quer que nos esqueçamos. É que Sócrates ainda pode vir a desempenhar um papel importante. É uma espécie de Jon Snow do Partido Socialista. Parece mesmo que está morto, mas toda a gente sabe que, mais cedo ou mais tarde, vai ressuscitar para distribuir sopapos. Ingerência no rabinho dos outros para o PCP é refresco O PCP continua a não querer ingerências em Angola. Como não as quer na Venezuela. Ou, disse-o no 25 de Abril, não quer as da UE em Portugal. Como é que se explica esta sanha anti-ingerência em assuntos internos, face às recentes reportagens do ‘Expresso’ sobre o Arquivo Mitrokhin e a colaboração que o PCP prestou à espionagem e sabotagem da URSS em Portugal? Explica-se com mudança de dieta: os comunistas passaram a acompanhar a ingestão de criancinhas com queijo. Deve ser enjoativo, mas gostos não se discutem. Crime, dizem eles (e elas, claro) Começou como caso de homofobia no Colégio Militar. Foi-se a ver e, afinal, tratou-se antes de amor não correspondido entre alunos. Chatice. Gasta-se tempo a marinar indignação de qualidade, é pena desperdiçá-la. O melhor é passar o rapaz de vítima de homofobia a predador sexual. Não se esbanja a paranóia litigante. Para estes justiceiros não se põe a hipótese de ter sido só um miúdo inexperiente que achou que era correspondido. Um afago é crime, igual a violação. Não basta a escola, juntamente com os pais, resolverem a situação. Pois se existem pelourinhos tão bonitos em Portugal! Em Atenas, Draco legislou castigos pesados para qualquer crime. Os justiceiros são igualmente implacáveis. Não exigem é a pena de morte, só um bom enxovalho público. Nisso não são draconianos, são só draconinhas.

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