O Costa do Marcelo

 Luciano Amaral | Correio da manhã, 06.06.2016
Os sinais de perigo para a geringonça acumulam-se: a economia continua péssima. 

Pode parecer hoje incrível mas, tal como Costa e Marcelo, também Sócrates e Cavaco se deram muito bem ao início. Depois, foi o que se viu. Ora, as coisas já não estão na mesma entre Costa e Marcelo. Durou muito menos o namoro, e compreende-se porquê. Sócrates apoiava-se numa maioria absoluta conquistada directamente, não precisava da ajuda do Presidente (e quando precisou, não sobreviveu). Já Marcelo teve os votos que Costa não teve. Convém perceber a base do nosso regime semipresidencial: o Presidente é eleito de forma directa por sufrágio universal, o que lhe dá uma legitimidade democrática concorrente com a do parlamento. A geringonça é um arranjo pós-eleitoral entre partidos que se detestam mutuamente. A sua plataforma de entendimento é muito frágil. Marcelo não apenas foi eleito com 52% dos votos como tem de senvolvido um estilo popularucho de monarca benevolente, alargando ainda mais a simpatia já expressa no voto. Os sinais de perigo para a geringonça acumulam-se: a economia continua péssima, o défice vai precisar de "medidas adicionais", a Caixa Geral de Depósitos vai precisar de uma fortuna, a sair do bolso do contribuinte-mexilhão costumeiro. Marcelo já disse o que António Costa não quer dizer: vai haver mais austeridade. E já disse que Costa está entregue a si próprio: ele não assegurou estabilidade até às Autárquicas de 2017; disse que não fará nada contra a geringonça, mas não garantiu que a geringonça não faça nada contra si própria. Costa já respondeu: quando Marcelo apelou a "consensos", o ministro Santos Silva (o velho rotweiller de Sócrates) apareceu com o mesmo ar de outrora a replicar que os consensos eram a negação da política; o próprio Costa explicou, no congresso do PS, que tinha "o consenso de que precisava" (leia-se, o da geringonça) e pôs-se com grandes bravatas de esquerda. Pois, foi bonito enquanto durou.
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