Ao PS ninguém leva a mal

Inês Teotónio Pereira
DN 20160813

Existem duas alturas do ano em que os políticos são especialmente alvos de embirração popular: quando se aumentam os impostos e nas férias de verão. 

Ser político é hoje tão impopular como era ser carrasco na Idade Média. É uma ocupação pouco recomendável. Ninguém fica sossegado se um filho escrever uma redação a anunciar que quando for grande quer ser político - e isto diz tudo sobre o nível de credibilidade desta ocupação. Ora, se ser político já é mau, ser político de férias é péssimo. Um político deve estar confinado apenas e só à televisão; não está na praia e muito menos aparece de fato de banho. Praias e políticos não coincidem. Além disso, é entendimento nacional que os políticos não merecem férias. Férias de quê? Se não fazem nenhum, não deviam ter férias. A Festa do Avante! chega e sobra para tirar a barriga de misérias das febras e do sol. Algum político que se atreva a pôr o pé na areia e terá a barriga e as chanatas a serem passadas a pente fino nas redes sociais. É assim há anos. Desde que, há muitos anos, Cavaco Silva vestiu um fato de banho e subiu a um coqueiro - são imagens que não se esquecem - ou desde que Mário Soares se montou em cima de uma tartaruga também trajando um fato de banho e de boné - não esquecerei a expressão da tartaruga - que nada voltou a ser como dantes. Políticos de fato de banho são um pitéu de verão. Há uns anos, por exemplo, Passos Coelho foi passar férias à Manta Rota, desceu à praia e foi ao supermercado. O povo exaltou-se. O primeiro-ministro na praia? Não pode ser. No supermercado? Que lata! O primeiro-ministro devia estar num pelourinho a ser chicoteado por não ser primeiro-ministro de esquerda. Mas nesta semana, enquanto o país ardia, a ministra da Administração Interna banhava-se no Algarve e bailava numa festa social sem vergonha nenhuma. O país a arder, os bombeiros que tutela a pedirem água e mantimentos, o caos instalado e a ministra na praia. Qual é o mal? Nenhum: como ela é do PS ninguém leva a mal.

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