Sínodo de Lisboa 2016: Uma Presença na Comunidade

MARIA JOSÉ VILAÇA   07.12.16 


Chegámos ao fim do trabalho da Assembleia Sinodal e temos de novo a possibilidade de fazer uma intervenção livre, desta vez mais focada na recepção da Constituição Sinodal que será apresentada no dia 8 de Dezembro, às 15h30, na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos. Não tinha pensado falar agora, mas senti-me inspirada pelo livro que trouxe para ler Cárron,J, A Beleza Desarmada e pelo salmo 118 que hoje rezámos. Então resolvi partilhar uma pequena reflexão:
Estamos sem dúvida a fazer história, estamos num ponto de viragem e claramente diante de uma enorme oportunidade de mudança. No entanto, a operacionalização do que sair do documento final do Sínodo de Lisboa não poderá passar apenas por mudanças nas estruturas e nos processos.
Falando em chave familiar, dou um exemplo: as alterações ao conceito de familia foram acontecendo quando a maioria das leis defendia o matrimónio como união entre um homem e uma mulher. Verificámos que toda a protecção oferecida pelas leis não se revelou de grande utilidade quando se tratou de disseminar esta mentalidade contrária ao matrimónio e portanto contrária às leis existentes. Então, o que correu mal? Onde falhamos?
Bento XVI na Encíclica Spe Salvi, 25 diz “As boas estruturas ajudam, mas por si só não bastam. O homem não poderá jamais ser redimido simplesmente a partir de fora.”
Não será descabido, em contexto sinodal, falar de comunidade. Penso que o desafio passa por retermos esta experiencia de comunidade que aqui vivemos e levá-la para onde vamos.
Mas é importante recordar que uma comunidade não é um conjunto de pessoas que se reúne para promover iniciativas, não é o local de construção de uma organização. “Não se constrói uma realidade nova com discursos ou projectos organizativos, mas vivendo gestos de humanidade nova no presente.” (Giussani,L., Da Utopia à Presença). 
A comunidade é o local onde se está porque se encontrou uma presença que nos gera e por isso é o local onde se amadurece como pessoa e se cresce na fé. A comunidade é a origem do amor que nos cria e recria e é também o local onde esse amor adquire em nós visibilidade para os outros.
Assim a tarefa que temos agora é revelar esta presença que nos renovou, que nos tornou comunidade, que nos fez crescer na fé e na caridade, que nos deu uma nova identidade e uma nova forma de olhar para a realidade. Saímos daqui homens e mulheres novos, renovados pela certeza de uma Presença que testemunhamos na experiência de comunidade.
Foi isto que eu vivi nestes dias: 
Confesso que me assustei quando percebi que ia ter pela frente horas várias fechada numa sala com mais 10 pessoas, a olhar para um texto mais ou menos abstracto, teórico, a discutir vírgulas e palavras… Como ultrapassar isto? Como ultrapassar o meu ímpeto organizativo quando era isto que me era pedido?
Ao perceber precisamente que me era pedido por alguém, e que esse alguém era a Presença que se revelava na comunidade, percebi que isso deveria mobilizar a minha inteligência, desde que eu o permitisse. Então entreguei-me à realidade e aceitei ser surpreendida por aquilo que Deus tinha para me mostrar: por detrás de cada comentário ou sugestão estava uma pessoa concreta com um pedido – “Senhor indica-me o caminho para eu amar mais e melhor. Senhor diz-me com que critérios devo olhar para esta ou aquela pessoa! Senhor qual deverá ser a minha opção nesta situação em concreto? Senhor como discernir por onde ir ou por onde guiar os outros?” 
Conclusão, como resistir? Como não me envolver? Como não amar? Como não me deixar afeiçoar por cada minuto do trabalho? Como não abraçar em Ti toda esta humanidade que, como eu, procura o Teu rosto? Como não agradecer pelo bem que, afinal, esta realidade tinha para mim? 
No fim: Ideia/Preconceito 0 – Realidade 1
Não tenho grandes coisas para dizer, mas levo daqui uma experiência de Igreja e a certeza que é desta forma que podemos passar das queixas, aos caminhos. O que nos salva é Cristo e Ele está nesta experiência de Comunidade e nela mostra-nos a riqueza de possibilidades que a realidade tem para nos oferecer. É só dizer como Maria “Faça-se”. 
Obrigada Senhor Patriarca, por nos ter convocado e por me ter convidado, e obrigada a todos os irmãos que foram a minha comunidade durante estes dias.

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