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A mostrar mensagens de agosto, 2017

Querem acabar com os meninos e com as meninas?

ALEXANDRA DUARTE    IONLINE    28.08.17 A histeria coletiva que se instalou nos últimos dias no espaço público sobre os livros de atividades para rapazes e raparigas é um sinal de alerta vermelho de que algo vai muito mal na nossa sociedade. Esta controvérsia, se assim a podemos denominar, encerra em si várias interrogações, demasiadas a meu ver, para além da que se impõe após a retirada dos livros do mercado, recomendada pelo governo à Porto Editora, depois de a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género se ter pronunciado quanto à possível discriminação latente nos conteúdos das publicações. Vou tentar ser sucinta sobre algumas das interrogações que me foram surgindo ao acompanhar esta polémica, perfeitamente dispensável e ridícula, já que cada uma delas necessitaria de muito mais do que os carateres que tenho disponíveis. 1. A que propósito o governo solicita a retirada dos livros do mercado, que nem sequer fazem parte do Plano Nacional de Leitura, limitando a

Cheira a negócio

LAURINDA ALVES   OBSERVADOR   08.08.17 Eu, mulher e mãe, sentiria tanta repugnância em gerar um filho que não fosse meu como em desembaraçar-me dele no fim. Tudo isto é anti-natural. Tudo é artificial e, desculpem lá, tudo cheira a negócio. Barrigas de aluguer, eis a designação comum e universal que não esconde absolutamente nada nas entrelinhas, ao contrário do que acontece agora, com o texto da Lei sobre Gestação de Substituição, em vigor desde o início do mês. Barrigas que se alugam, são barrigas que têm custos e se pagam caras. Ponto. Esta lei proíbe o negócio, mas não diz como são os mecanismos de fiscalização e penalização. Além disso há custos tão ou mais elevados que os financeiros. O preço físico, moral e emocional a pagar por todo este processo pode ser brutal. Desde logo para a gestante de substituição e para o bebé, mas não só. Digam o que disserem, a lei não é tão estrita como querem fazer crer. Se fosse, tenho a certeza de que Jerónimo de Sousa e os seus camaradas

Certificado de ordem primária (1ª crónica estival)

MARIA JOÃO AVILLEZ   OBSERVADOR    08.08.17 Fui-me apercebendo que, se não me lembro de os meus pais se terem “ocupado” desta forma dos meus filhos, foi simplesmente porque não era, como hoje é, (quase) urgente fazê-lo. Era-se avó doutra forma. 1.  Não é que esteja distraída com o Verão (como se pudesse dar-me a esse luxo); nem que desde Julho não se cozinhem empadões, guisados e picados; ou não haja, no ar, aquele inquietante pré-aviso de iminente alteração da ordem vigente. Mas a verdade é que não esperava para já tão aparatoso alarido. Temi afogar-me entre as datas de chegada dos vários “estrangeiros” onde vive a prole, entre a “requisição de apoios logísticos e automobilísticos, entre a permanente indefinição dos locais por onde contam cirandar, entre vários e variados outros requisitos. O “pater famílias” exausto antes do tempo, optou por fabricar um mapa (um excel mas detesto a palavra) com a ilusão de que lá imprimindo a complexa agenda das férias estivais dos filhos&a

Discurso de aceitação do prémio Fé & Liberdade

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NOVA CIDADANIA, 7 AGOSTO 2017   Saúdo o Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e a organização do Estoril Political Forum, que celebra este ano um quarto de século. Nos últimos anos, tenho tido gosto em estar convosco, pelo desejo que reconheço nestes nossos encontros de olhar a política como serviço do bem comum. Padre João Seabra Cónego. Diretor do Instituto de Direito Canónico da Universidade Católica Portuguesa Quero saudar especialmente o júri do Prémio Fé e Liberdade, a quem manifesto a minha gratidão pela honorificência que me atribuiu. Cumprimento também o Professor Guilherme de Almeida e Brito, meu amigo de tantos anos, cujas generosas palavras agradeço comovido. Uma palavra ainda para o Professor Robert Royal, que preside a esta sessão: o seu livro Mártires do século XX foi para mim, e julgo que para toda a igreja, um instrumento decisivo para a preparação do Grande Jubileu. As suas intervenções e publicações, e o trabalho do seu think tank Fides e

Do sorriso de Fehér

ANA SOUSA DIAS   DN    06.08.17 Um dos meus heróis chama-se Ricardo Espírito Santo. No dia 25 de janeiro de 2004, ele dirigia a transmissão do jogo Guimarães-Benfica e tirou do ar, num ápice, o rosto de Miklós Fehér no instante em que o coração do jogador húngaro parou. A última imagem que tivemos dele foi um sorriso aberto. Ricardo fez, antes e depois, centenas de transmissões de futebol, um trabalho normal na vida profissional dele, que está recheada de muitos outros, no desporto como noutras áreas. Eu não o conhecia mas para mim aquele momento definiu-o. Mais tarde ficámos amigos e pude confessar-lhe o meu profundo respeito por aquele gesto instantâneo. Para ele, tinha sido uma reação normal, óbvia. Todos os dias tomamos decisões - o que vou vestir, viro para a esquerda ou para a direita, o que faço para o jantar -, escolhas banais. As grandes decisões são outra coisa: mesmo quando parecem tomadas rapidamente, têm por trás um lastro que é a nossa vida inteira, incluindo as

O agosto terrível

LEONÍDIO PAULO FERREIRA    DN   07.08.17 Estive neste ano em Hiroxima e Nagasáqui, as duas cidades japoneses que sofreram o horror atómico. Aconteceu há 72 anos, com a efeméride de Hiroxima a ter sido celebrada ontem e a de Nagasáqui a estar marcada para quarta-feira. Visitei os dois memoriais às vítimas, percorri em ambas as cidades os museus que contam os horrores. Também posso testemunhar o milagre da reconstrução, de como o povo japonês se soube erguer das cinzas e construir uma sociedade próspera e pacífica. A questão do pacífica não é um pormenor. Hoje não se questiona que o colonialismo tardio japonês na Ásia Oriental foi o início da desgraça do país em 1945 tal como não se questiona que as bombas americanas apressaram o fim da Segunda Guerra Mundial, forçando o imperador a declarar a rendição uma semana depois das explosões atómicas. O novo Japão foi dotado de uma Constituição pacifista pelo ocupante americano, mas com o tempo os japoneses aceitaram a ideia da renúncia