Os pais estão sozinhos


INÊS TEOTÓNIO PEREIRA   DN   28.01.2018

Basta abrir o Facebook para se perceber que os pais não fazem ideia do que fazer com uma criança nos braços. Basta aderir a um qualquer grupo de mães para se ficar angustiado com as dúvidas que as assaltam e não as deixam dormir, com os medos que lhes toldam o raciocínio. Basta conversar com um pediatra para saber que os pais precisam mais de conselhos, apoio moral e alguém que lhes transmita confiança do que de conselhos médicos e científicos. Basta olhar para o lado para constatar que os pais precisam da comunidade, de ter família, de tios e de vizinhas que lhes digam como se faz, o que significa a borbulha que apareceu no rabo na criança e de alguém a quem tratam pelo nome que lhes garanta que aquilo que não mata engorda. Precisam de exemplos, resumindo. Os pais estão sozinhos e na sua solidão duvidam da própria sombra.

O problema da natalidade chegou às novas gerações de pais: os novos pais são também filhos únicos, de famílias pequenas, dispersas e por isso sem rede. Não há a prima mais velha a quem se liga, não há sobrinho a quem se mudou a fralda quando se tinha 12 anos, não há tios e irmãos que dão sempre uma mãozinha. Não há nada inerente, é tudo ensinado, aprendido, visto pela primeira vez quando se é pai ou mãe. Não sabem. Os novos pais aprendem no YouTube a dar banho, pagam cursos para aprender a vestir bebés e estão vulneráveis a todo o tipo de enormidades debitadas na rede. A educação, a criação, é cibernética e aqui não há sexto sentido ou intuição. Há apenas informação em bruto, dispersa e contraditória. A solidão da maternidade e da paternidade nunca foi tão grande. Nunca os filhos tiveram tão poucas pessoas a educá-los, tão poucos primos com quem fazer asneiras, tão poucos vizinhos para darem um olho, tão pouca roupa herdada. Não há gerações, há três pessoas. Assim, e na dúvida, os pais guiam-se pela vontade do menino, dançam ao ritmo do seu choro e educam conforme os seus caprichos. É a ditadura do querer das crianças em detrimento da educação dada por uma aldeia inteira.

A SuperNanny não vem mostrar nada de novo, é apenas a consequência direta e normal de uma época em que as mães choram no Facebook e não no ombro das primas, em que os psicólogos substituem os avós e em que os pediatras fazem o trabalho dos psicólogos. Os pais estão sozinhos e só isso justifica que exponham as suas crianças ao mundo, as humilhem e se humilhem sem qualquer pudor como se já não tivessem nada a perder. É que se calhar não têm mesmo.

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